Com milhões de desempregados, os poderosos do Brasil engendraram em nossa realidade uma pequena casta que garante seus empregos por longos anos
Este é um conteúdo da Bússola, parceria entre a FSB Comunicação e a EXAME. O texto não reflete necessariamente a opinião da EXAME.
Por Márcio de Freitas*
Com milhões de desempregados, os poderosos do Brasil engendraram em nossa realidade uma pequena casta que garante seus empregos por longos anos. Com direito a passagens aéreas, hotéis cinco estrelas, jantares em restaurantes caros, muito privilégio e mordomia, pouca cobrança e nenhuma meritocracia. Aliás, a grande maioria não tem bons resultados para apresentar e suas contas estão cheias de ressalvas no Tribunal Superior Eleitoral, outros enfrentam alguns problemas com a Receita Federal.
São os presidentes de partidos políticos brasileiros. Não todos, mas a boa maioria se perpetua nos cargos indefinidamente. Nestes, a democracia existe da porta para fora. Vale para eleições populares, mas não entra nem uma molécula de oxigênio para dar respiro à alternância no poder interno. Há quem esteja há mais de 30 anos mandando na legenda, mesmo que ela tenha mudado de nome várias vezes. O cidadão supremo permanece o mesmo desde o século passado.
Alguns conseguem o êxito de colocar familiares para trabalhar nas proximidades, pois não há regra do nepotismo. É filho, esposa, primo, tio. A grande família entra diretamente ou por contratos com assessorias jurídicas, prestação de serviços diversos, consultorias quase sempre afetivas. Laços íntimos que garantem a perenidade genética na luta pelo poder.
Luta que ainda mantém algumas legendas em evidência, mais pela autofagia e pelos embates internos, com puxões de tapetes e dedos nos olhos do que por programas de governo para o país. Penas voam em épocas eleitorais durante as disputas pelas candidaturas mais cobiçadas, aquelas que geram gastos de milhões ao fundo partidário e ao fundo eleitoral. Sim, há dois? E ambos bilionários.
O custo anual do contribuinte para financiar essa máquina soma os R$ 4,9 bilhões do Fundo Especial de Financiamento de Campanhas, que é diferente do Fundo Partidário, pelo qual as principais siglas nacionais receberam quase R$ 1 bilhão em 2021. Esse dinheiro é distribuído seguindo o percentual de deputados federais que cada legenda tem na Câmara dos Deputados.
Esse critério criou a obrigatoriedade de se manter a representação numerosa para obter pelo menos o mesmo volume de recursos após cada eleição nacional. Certos partidos abriram mão de um projeto de poder pela eleição do presidente da República, para manter o poder no Congresso, onde administram as emendas secretas e pressionam o Executivo, além de controlar as emendas parlamentares, individuais e secretas.
Esse é um novo ingrediente para a perpetuação dos comandos partidários ? que como aquele personagem de Bram Stoker continuam a sugar a energia da democracia para alimentar sua própria oligarquia.
Ser presidente de partido inclui o benefício de não ser cobrado por resultados, ao contrário do mercado privado, onde se o CEO não dá lucro encontra o caminho da rua de maneira rápida e direta. Quando as coisas não vão bem para chefe, troca-se a base, buscam um palhaço para fazer rir o eleitor e segue em frente com novos seguidores ? sempre os há. Ou aliavam-se em coligações na disputa proporcional, agora proibidas.
Mas então surgiu a possibilidade das Federações, que obrigam alinhamento político por quatro anos, mas mantém a gestão dos recursos separados. Casamento em casas diferentes. Ótimo para a família não brigar pelo mesmo fundo? Mudam tudo para tudo permanecer tal e qual.
Os partidos brasileiros não têm por hábito pensar o Brasil. Raras exceções o fizeram. Poucas ideias e muita verba são as proporções da encrenca. Há quem se classifique como não sendo de direita nem de esquerda, muito antes, pelo contrário, não está no centro mas também não é periférico.
E ainda tentam lançar candidatos como se fabrica uma salsicha. Ou muda a especialidade da casa ao sabor do momento, tanto podem servir churrasco quanto tutu à mineira, mas a intenção é continuar tudo na mesma. Ou seja, perto do governo que está para surgir em outubro.
É essa regra que se mantém inalterada, busca-se a proximidade com o Palácio do Planalto a todo custo, como o crente busca o altar de sua fé. O detalhe é que, aos presidentes das legendas, não importa o santo que lá esteja, apenas que o milagre seja o mesmo. Para desespero do povo brasileiro.
*Márcio de Freitas é analista político da FSB Comunicação
Este é um conteúdo da Bússola, parceria entre a FSB Comunicação e a EXAME. O texto não reflete necessariamente a opinião da EXAME.
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