Apesar de "profissional e substantiva", segundo os americanos, a conversa não representou mudanças
Em uma conversa de uma hora por telefone, o presidente dos EUA, Joe Biden, ameaçou ontem o russo, Vladimir Putin, de impor pesados custos à Rússia em caso de invasão da Ucrânia. A Casa Branca acredita que o ataque deve ocorrer em uma questão de dias o que transformou a conversa em uma das últimas tentativas diplomáticas de resolver o impasse.
"Biden foi claro com Putin e disse que, embora os EUA continuem preparados para a diplomacia, em coordenação com nossos aliados, estamos igualmente preparados para outros cenários", disse a Casa Branca, após a ligação.
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Apesar de "profissional e substantiva", segundo os americanos, a conversa não representou mudanças. "Não mudou a dinâmica que vem se desenrolando há várias semanas", afirmou uma fonte do alto escalão do governo americano. "Continuamos comprometidos com a diplomacia, mas temos uma visão clara sobre as perspectivas disso, dadas as medidas que a Rússia está tomando à vista de todos."
Macron
Antes da conversa com Biden, Putin falou ao telefone com o presidente francês, Emmanuel Macron, por uma hora e 40 minutos. Ao russo, Macron disse que o "diálogo sincero" era incompatível com as tensões e com a mobilização de tropas da Rússia na fronteira com a Ucrânia. Fontes da presidência francesa disseram que nada no telefonema sugeriu que Putin esteja se preparando para uma invasão.
De acordo com o Kremlin, Putin disse a Macron que não pretende invadir a Ucrânia e afirmou que os alertas americanos a respeito de uma operação militar são "especulação" e "histeria". O presidente russo, no entanto, não deu nenhuma indicação que recuará suas forças militares.
Quem também conversou ontem foram os chefes das diplomacias da Rússia, Sergei Lavrov, e dos EUA, Antony Blinken. Na conversa, segundo a nota divulgada pela chancelaria russa, Lavrov acusou Washington de fazer uma "campanha de propaganda" em torno de uma invasão da Ucrânia.
Ele afirmou que o objetivo dos americanos seria fortalecer a posição dos ucranianos na região de Donbass, leste do país, onde o Exército enfrenta há oito anos separatistas pró-Moscou em um conflito civil. "Depois que as tropas russas terminarem os exercícios militares e retornarem aos quartéis, o Ocidente declarará uma 'vitória diplomática' por ter garantido o recuo da Rússia", disse Lavrov.
Companhias aéreas
Em meio aos crescentes temores de uma invasão da Rússia na Ucrânia, mesmo com negociações diplomáticas com o Ocidente em andamento, empresas aéreas estão redirecionando voos com destino à Ucrânia.
A companhia aérea ucraniana SkyUp comunicou, neste domingo, 13, que um voo com origem em Madeira, Portugal, para Kiev, foi desviado para a capital da Moldávia, Chisinau, depois que o arrendador irlandês do avião afirmou proibir voos no espaço aéreo ucraniano.
No sábado, 12, a companhia aérea holandesa KLM também cancelou voos para a Ucrânia até novo aviso. A sensibilidade holandesa ao perigo potencial no espaço aéreo ucraniano é alta após o ataque de um avião da Malásia em 2014 sobre uma área do leste da Ucrânia controlada por rebeldes apoiados pela Rússia. Todas as 298 pessoas a bordo morreram.
A Rússia nega que pretenda invadir a Ucrânia, mas reuniu mais de 100 mil soldados perto da fronteira ucraniana e enviou tropas para exercícios na vizinha Bielorrússia. Autoridades dos EUA dizem que, com o aumento do poder de fogo da Rússia, a invasão pode ocorrer dentro de um curto prazo.
Em uma ligação de uma hora no sábado com o presidente russo, Vladimir Putin, o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, disse que invadir a Ucrânia causaria "sofrimento humano generalizado" e que o Ocidente estava comprometido com a diplomacia para acabar com a crise, mas "igualmente preparado para outros cenários".
Preparação
Já segundo a transcrição da conversa divulgada pelo Departamento de Estado americano, Blinken disse a Lavrov que uma invasão "resultaria em uma resposta transatlântica determinada, maciça e unida". O americano afirmou que os canais diplomáticos permanecerão abertos, mas que Moscou precisa reduzir sua presença militar na fronteira com a Ucrânia.
Nos últimos dias, Washington passou a se preparar para o que considera o pior cenário, o de invasão da Ucrânia. Ontem, ao descrever a situação, um funcionário do alto escalão do Departamento de Estado afirmou que as operações do serviço consular americano é limitada em "zonas de guerra".
"Continuamos a trabalhar para garantir que a Ucrânia não se torne uma zona de guerra. No entanto, parece cada vez mais provável que seja para onde a situação está se dirigindo, para algum tipo de conflito ativo", disse o diplomata.
O Departamento de Estado dos EUA informou que a partir de hoje suspenderá os serviços consulares da Embaixada Americana em Kiev. Apenas atendimentos de emergência continuarão ativos na cidade de Lviv, a mais de 500 quilômetros da capital ucraniana.
Durante a semana, os EUA disseram que havia um alto risco de um ataque à Ucrânia antes do encerramento dos Jogos Olímpicos de Inverno na China, no dia 20, e a CIA informou aos governos aliados que as tropas russas teriam recebido ordens para estarem de prontidão até quarta-feira.
Reação
Apesar de o Kremlin negar a intenção de invadir a Ucrânia, a chancelaria da Rússia comunicou ontem a redução de pessoal em sua embaixada em Kiev. "Temendo possíveis provocações da Ucrânia ou de outros países, decidimos otimizar o pessoal nas representações russas na Ucrânia", afirmou Maria Zakharova, porta-voz da chancelaria.
Ao citar possíveis provocações da Ucrânia, Zakharova pareceu corroborar as suspeitas dos EUA, que afirmaram na semana passada que o plano de Putin seria criar um pretexto para invasão. Segundo o New York Times, citando fontes do governo americano, os russos pretendem divulgar vídeos falsos de um massacre comandado por ucranianos na Rússia ou contra a população de origem russa no leste da Ucrânia. O Kremlin nega e diz que a alegação não passa de "desinformação".