Cotações do petróleo podem atingir US$ 120 em caso de conflito e sanções do Ocidente; veja outros efeitos potenciais em ações e no câmbio
A semana terminou com bolsas americanas em queda, dólar subindo no Brasil e em outros mercados e acentuada alta nos preços do petróleo. Desta vez, não apenas em razão da perspectiva de iminente aumento da taxa de juros pelo Federal Reserve, o Fed, nos Estados Unidos já no mês que vem. O novo fator que impactou os preços dos ativos tem raízes geopolíticas: a ameaça de invasão da Ucrânia pela Rússia e uma guerra potencial com o Ocidente.
Um potencial conflito entre as maiores potências militares do mundo não havia sido apontado por estrategistas e analistas no começo do ano como os principais fatores de atenção aos mercados globais. Mas agora entrou no radar.
Em um movimento de venda de ações concentrado das últimas duas horas e meia do pregão, o S&P 500 encerrou a sexta-feira, dia 11, em queda de 1,9%, o Dow Jones, de 1,4%, e a Nasdaq, de 2,8%. No Brasil, em movimento quase simultâneo, o Ibovespa quase zerou um ganho que se aproximava de 1,5% e encerrou o dia com leve alta de 0,18%. No Brasil, o dólar comercial acabou o dia com valorização de 0,07%, depois de cair mais de 1% mais cedo.
O índice de empresas do setor de energia que fazem parte do S&P 500 saltou 2,8% na sexta, com os preços do petróleo voltando a atingir cotações máximas em sete anos.
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Já temerosos com a inflação acima do esperado e a expectativa de aumento das taxas de juros, operadores aceleraram as vendas em Wall Street depois de o governo americano alertar que a Rússia havia reunido tropas suficientes perto da Ucrânia para lançar uma grande invasão e que um ataque poderia começar a qualquer momento nos próximos dias.
Foi uma pequena amostra de um movimento ainda localizado de fuga para ativos de maior qualidade (veja mais abaixo).
Segundo o Conselheiro de Segurança Nacional dos Estados Unidos, Jake Sullivan, os riscos de uma invasão russa na Ucrânia são grandes o "suficiente". A Casa Branca recomendou a americanos que deixem o país.
O impacto imediato seria sentido nas cotações do petróleo. A hipotética invasão da Ucrânia levaria provavelmente a sanções econômicas do Ocidente, restringindo as exportações russas de gás natural e petróleo e afetando de forma considerável o delicado equilíbrio entre oferta e demanda em nível global.
Os preços dos contratos futuros de petróleo poderiam nesse cenário atingir "facilmente" a casa de 120 dólares em questão de semanas, escreveu em relatório Natasha Kaneva, head de Estratégias Globais de Commodities do JPMorgan.
A permanência das cotações em patamares mais elevados, por sua vez, teria o efeito de pressionar ainda mais os preços de combustíveis como gasolina e óleo diesel em diferentes mercados: ou seja, mais inflação.
No entanto, em caso de eventos geopolíticos com impactos sobre preços de ações de maneira abrangente, o histórico recente tem mostrado que investidores estão mais cautelosos para reagir e que o efeito de recuperação dos preços acontece rapidamente uma vez superado o motivo de incerteza e fuga.
Foi assim em julho e setembro de 2017 com a escalada das tensões envolvendo a Coreia do Norte e a ameaça de mísseis sobre vizinhos asiáticos: o S&P 500 levou pouco mais de um mês para se recuperar do ponto mais baixo atingido durante o episódio. A ressalva desta vez é que um conflito com a Rússia teria proporções muito maiores.
E os impactos sobre o Brasil?
Economistas e estrategistas em geral ainda não apontaram impactos potenciais de um conflito militar entre Rússia e Ucrânia no mercado brasileiro, diante da avaliação de que é necessário aguardar novos fatos concretos.
Para André Perfeito, economista-chefe da Necton Investimentos, há alguns efeitos que poderiam ser esperados:
1. Juros americanos tenderiam a cair na esteira da busca de segurança por parte dos investidores, o que pode evitar uma alta generalizada dos juros no Brasil;
2. A alta do preço do petróleo criaria incentivos para valorizar ações de empresas como a Petrobras (PETR3, PETR4), o que acabaria amenizando uma queda da bolsa brasileira;
3. Um ponto de atenção caso o conflito armado ocorra e se extenda seria no agronegócio: cerca de 30% dos fertilizantes importados pelo país são enviados pela Rússia;
4. O real poderia se apreciar, por mais contraditório que isso possa parecer, na esteira de juros ?menos altos? nos Estados Unidos e de preços de commodities em alta no mundo.
Na sexta, o dólar teve uma sessão de ganhos no exterior, assim como o ouro: ambos são ativos tradicionalmente sensíveis a questões geopolíticas e considerados uma espécie de porto seguro em momentos de incertezas.
Mas, no mercado, a avaliação é que os fatores que levaram a moeda americana a engatar uma sequência de cinco semanas em queda em relação ao real continuam postos e que isso continua a prevalecer até segunda ordem.
Nesta semana que passou, o dólar no Brasil acumulou queda de 1,54%. No período de cinco semanas, a baixa foi de 6,91%.
O real divide com o sol peruano o posto de divisa com melhor desempenho global neste ano, em uma lista liderada com folga por moedas emergentes de países que também têm apertado a política monetária. A taxa básica de juros, a Selic, passou para 10,75% ao ano no começo do mês e pode chegar a 12,50%, segundo algumas projeções no mercado.
O real tem se beneficiado ainda do expressivo volume de ingresso de capital estrangeiro na bolsa brasileira, com investidores globais em busca de ações de valor -- como as de empresas de commodities e bancos -- com múltiplos atrativos, enquanto reduzem posições em ações de crescimento -- as de tecnologia -- em Nova York.
Estrategistas do Barclays mantêm apostas otimistas na taxa de câmbio brasileira: apontam resiliência na classe de moedas emergentes de forma geral pelo histórico favorável em outros momentos de alta de juros nos EUA.
(Com a Reuters)