Anuência prévia foi dada no início deste mês, mas a Copel entrou com recurso alegando ilegalidade na decisão
A Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) vai rever a aprovação da venda da rede de telefonia móvel da Oi para as operadoras Claro, TIM e Telefônica (dona da marca Vivo), de acordo com fontes a par da operação. A avaliação é que a decisão, no último dia 1º de fevereiro, possa não ter validade legal. Por isso, a anuência prêvia para a compra de R$ 16,5 bilhões deverá ser considera nula.
Não há uma data ainda para que o Conselho Diretor do órgão regulador se reúna para decidir o futuro da venda da Oi Móvel. Mas já é certo que o processo tende a atrasar e ficar para depois do primeiro trimestre deste ano, fora do prazo original estipulado pela Sétima Vara Empresarial da Justiça do Rio para encerrar o processo de recuperação judicial da tele carioca.
Em paralelo, o Cade, que regula a concorrência no país, também analisa o processo. Fontes dizem que na semana passada as teles enviaram nova proposta.
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O imbróglio começou na quinta-feira, dia 3, quando a Copel enviou à Anatel uma petição pedindo que a anuência prévia dada ao negócio seja "anulada". Segundo o documento ao qual O Globo teve acesso, a Copel argumenta que as reuniões são ilegais.
São vários impasses, destacam as fontes. Primeiro, no dia 28 de janeiro, quando foi marcada a primeira reunião no Conselho da Anatel para tratar da Oi, o conselheiro Emmanoel Campelo, na condição de presidente interino da agência, deveria ter convocado a superintente mais antiga (Elisa Leonel) para presidir a seção, o que não foi feito.
Depois, no dia 31, Campelo deveria ter convocado para a reunião outro conselheiro, Wilson Diniz Wellisch, que já havia sido nomeado presidentre interino da Anatel, e também não foi feito.
Além disso, outro ponto de discussão é que a reunião do dia 31 de janeiro, que havia sido suspensa após um pedido de vista pelo conselheiro Vicente Bandeira de Aquino Neto para 10 de fevereiro, acabou sendo convocada para o dia 1º de fevereiro pelo próprio Campelo, quando o processo foi aprovado por unanimidade.
No documento assinado por Adriana Losito, gerente jurídica da Copel Telecom, a empresa diz que as reuniões do conselho "ocorreram apenas com os conselheiros Emmanoel Campelo de Souza Pereira, Carlos Manuel Baigorri, Vicente Bandeira de Aguino Neto e Moíses Queiroz Moreira. De modo que, como se vê, o novo conselheiro da Anatel Wellish não participou das deliberações e das votações correspondentes".
A tele diz ainda que "de forma mais grave o conselheiro Emmanoel Campelo de Souza Pereira exerceu a função de presidente maculando de ilegalidade irremediavelmente as deliberações e decisões do Colegiado nessas ocasiões".
Por trás da investida da Copel Telecom no negócio está o empresário Nelson Tanure, que é um investidor na companhia através do fundo Bordeaux. Além da Copel, o fundo também controla a Sercomtel. Ambas as empresas foram adquiridas pelo fundo em 2020. Há alguns anos, o empresário tentou, como acionista minoritário, assumir o controle da Oi, mas não obteve sucesso.
O pleito da Copel caiu como uma "bomba" dentro do governo. Isso porque a avaliação junto a fontes a par do assunto é de que muito provavelmente Nelson Tanure ganhe essa disputa.
Especialistas do setor ouvidos pelo O Globo são unânimes em concordar com a nulidade das deliberações lideradas por Campelo. Segundo uma fonte ligada ao governo, o conselheiro Campelo "deveria ter convocado o substituto, mas não fez".
Por isso, a leitura de que as reuniões da Anatel não valeram. Dentro do órgão regulador já está claro que a decisão não terá validade, disse outra fonte.
Negócio de Elon Musk deve ser suspenso também
Segundo fontes a par do processo, a reavaliação do caso envolvendo a Oi deve demorar. Isso porque as partes terão de ser notificadas, um novo relator terá de ser nomeado e terá de se discutir quais as ilegalidades cometidas pelo conselheiro Campelo. Segundo uma fonte, o episódio foi visto como uma grande "confusão".
Com isso, também pode ser anulada a aprovação dos direitos de exploração de satélites da SpaceX, comandada pelo bilionário Elon Musk, e da empresa Swarm.
Dentro da Anatel, a avaliação é que a venda da operação móvel da Oi foi feita com base na "lei de telecomunicações", o que não deve gerar grandes impasses.
Porém, fontes vêm mostrando preocupação com o parecer do Ministério Público Federal (MPF) no Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade), que deu um parecer contrário ao negócio. O MPF recomendou a abertura de processo administrativo para apurar se houve conduta concertada entre as empresas, com a exclusão de outras companhias interessadas.