Mas afinal, quem se importa com o S do ESG, para construir pontes entre o mundo corporativo e o mundo social
Por Leizer Pereira*
Com cerca de 15 milhões de desempregados, o Brasil tem a terceira maior taxa de evasão escolar no ensino médio no mundo, 35% de jovens nem-nem (fora da escola e do trabalho), 19 milhões de brasileiros com fome, além do fato de 75% da população pobre ser negra, e por fim o fato do Brasil ser o segundo país mais desigual do mundo. Quem se importa?
Apesar de ter nascido em Caxias, periferia do Rio de Janeiro, numa família pobre e de negros e, ter sofrido na pele toda a opressão imposta pelas desigualdades e falta de oportunidades, eu consegui vencer o Brasil e ascender para classe média.
Com renda maior, você ganha um passaporte para frequentar espaços de privilégios na cidade, mais conforto, mais segurança e sem perceber você vai entrando numa bolha, vai ficando mais individualista, indiferente e passa a não enxergar as mazelas, e naturalizar as desigualdades.
Eu confesso que já participei de muitas conversas de bar rodeado de pessoas privilegiadas, muitos deles gestores em empresas, onde todos exercitavam a prática comum de reclamar que ninguém fazia nada para mudar essa realidade feia e vexatória no Brasil, sobravam críticas ao governo, aos partidos e aos políticos.
Depois de um tempo comecei a ficar inquieto, porque reclamar não bastava. Eu precisava fazer alguma coisa, sair da zona de conforto e ir para ação, pois meu discurso não batia com a minha prática.
Hoje vivemos a febre do ESG nas empresas e, lembrando das conversas de bar, identifico o principal desafio nessa nova jornada, que é a exigência de uma profunda conexão da liderança com o Brasil real e profundo. Um Brasil que a classe média ignora, não conhece e invisibiliza.
A maioria das pessoas que ocupam os cargos de liderança nas empresas segue o perfil de homem, branco, cis, hétero, meia idade, classe média alta, que não tem amigos negros, nunca pisou na favela, não entende nada da sopa de letrinhas LGBTQIA+, nem empoderamento feminino. A sensação é que está puxado para esse perfil padrão entender esse momento disruptivo, com rápida desconstrução e redesign de um novo ambiente de trabalho em curso hoje. Um perfil que prioriza diversidade, inclusão, equidade e o ESG.
Chegou a hora dessa liderança se importar de verdade, ficar inquieta, e sobretudo arregaçar as mangas, dedicando tempo, energia, dinheiro e recursos, para fazer a agenda do S, do ESG, decolar. As empresas precisam trocar a camisa P por uma camisa GG de responsabilidade social. Agora isso só será possível se for construída as pontes entre o mundo corporativo e o mundo social, criar um espaço de diálogo seguro e escuta empática, para todo mundo falar a mesma língua e construir as soluções que ainda não existem.
Construir essas pontes é hoje o meu maior propósito, e todos os dias acordo com muito entusiasmo em poder servir o meu país na construção de organizações e uma sociedade mais justa, menos desigual e mais inclusiva, criando assim as bases para um verdadeiro salto civilizatório do nosso povo.
*Leizer Pereira é fundador e diretor executivo da Empodera, startup de RH
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