"O medo é um poderoso instrumento de controle. O uso das sentenças de morte social é um dispositivo ainda mais poderoso pois limita a capacidade de pensar"
Por Sérgio Cavalcanti
Inúmeras atrocidades já foram cometidas em nome de Deus, do amor, da liberdade, dos pobres e dos oprimidos. Basta uma olhadinha rápida em um livro de história qualquer; lá estarão os defensores das virtudes a compor pelotões de fuzilamento, juizados da inquisição ou operadores de guilhotina.
Os temas mudam com os tempos, mas o modus operandi continua o mesmo: um pequeno grupo, em um suposto planalto moral, decide que regras devem ser impostas à maioria - sejam elas racionais ou não - e cria um verdadeiro aparato de controle policialesco que constrange e obriga o indivíduo a estar em conformidade com as doutrinas socialmente aceitas. Ai de quem questione ou se rebele!
As redes sociais são um paradoxo: a liberdade de expressão foi potencializada a níveis impensáveis há meio século, pois nunca foi tão fácil produzir conteúdo e fazê-lo chegar a um número imenso de pessoas. Por outro lado, a ubiquidade das redes criou um gigantesco Big Brother que tudo vê, tudo ouve, tudo pode distorcer e censurar. Isso mesmo: censura que constrangeria os censores do Estado Novo de Vargas.
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Não importa o assunto: machismo, gênero, sexualidade, raça, religião, política, ativismo corporativo, ESG. Basta uma frase mal colocada - e mal interpretada - e os censores usam a força das redes para cancelar, diminuir, negar o contraditório, destruir e, no final, decretar a sentença de morte social.
Uma espada de Dâmocles se mantém bem posicionada sobre a cabeça de quem lê, pensa, reflete e pode se opor ao suposto senso comum e à doutrina da moda.
O resultado é a autocensura que empobrece a sociedade como um todo, abre espaço para mais sectarismo e um pensamento uniforme, raso e idiota.
O medo é um poderoso instrumento de controle social. O uso das sentenças de morte social é um dispositivo ainda mais poderoso pois limita a capacidade de pensar.
O que estamos dispostos a perder para defender nossas convicções, dá real a dimensão do quão importante são esses princípios.
A morte social é um preço pequeno diante do cenário que nos espera: abdicar da capacidade de pensar e do direito de discordar do que é convencional no momento.