Descoberta de grandes reservas de petróleo e gás trazem fluxo inédito de riqueza ao litoral do Caribe; país busca acordos de cooperação técnica e comercial
Em meio à crise econômica que veio à reboque da pandemia, um país da América do Sul começou a experimentar uma explosão de crescimento. Depois de expandir sua economia em 43% em 2020, quando boa parte do mundo afundava, a Guiana deve crescer quase 50% este ano, segundo o Fundo Monetário Internacional (FMI). Projeções de mercado apontam que o vizinho Suriname também está na trilha do sucesso, com descobertas recentes de grandes reservas de petróleo e gás.
A balança comercial do Brasil não demorou a apontar essa transformação do cenário. Em 2021, as exportações para a Guiana aumentaram 170%, alcançando 111,7 milhões de dólares. Os resultados em relação ao Suriname foram mais modestos: vendas de 38,5 milhões de dólares, diante de 31,3 milhões em 2020. Do lado brasileiro, o diagnóstico é que há espaço para uma evolução considerável ? e não apenas no que diz respeito ao comércio.
?Trata-se de dois países com os quais o Brasil faz fronteira e desfrutam de acesso ao mar do Caribe, o que por si só justifica uma aproximação maior?, diz o embaixador Pedro Miguel da Costa e Silva, secretário de Negociações Bilaterais e Regionais nas Américas do Ministério das Relações Exteriores. ?Além disso, são nações que devem crescer muito nos próximos anos e onde há muito por fazer, seja em infraestrutura, energia e até na formação de quadros técnicos?.
Esses temas estiveram na agenda da visita oficial da comitiva brasileira ao Suriname nesta quinta-feira, dia 20, quando houve um almoço entre o presidente Jair Bolsonaro, Chandrikapersad Santokhi (chefe do Executivo do Suriname) e Mohamed Irfaan Ali, da Guiana, além de reuniões técnicas. Os encontros em Georgetown, capital da Guiana, previstos para esta sexta-feira, dia 21, foram cancelados em função do falecimento da mãe de Bolsonaro.
O estreitamento dos laços com os dois países prevê desde acordos de cooperação técnica, especialmente na área de petróleo e gás e infraestrutura, até mecanismos que facilitem o aprofundamento das relações comerciais. Está em discussão, por exemplo, a elaboração de acordos de transporte terrestre, além da construção de uma estrada ligando Roraima ao porto de águas profundas da Guiana, por meio de investimentos da iniciativa privada.
A Guiana e o Suriname também demonstraram interesse em uma agenda para discutir (e implementar) iniciativas brasileiras na área de petróleo e gás, como a criação de agências reguladoras. ?Há a previsão ainda de discussões mais amplas em áreas como defesa e segurança, já que os países que compartilham a Amazônia vivem desafios semelhantes na região?, diz Silva.
A Petrobras deve ter uma atuação ativa nessa porção do continente. A empresa se preparou para dar início este ano à exploração do primeiro poço de petróleo de uma bacia offshore localizada entre a Guiana e o Brasil ? o planejamento estratégico inclui operações em outros 13 poços.
Nos últimos anos, foram descobertas reservas de 10 bilhões de barris de petróleo no litoral da Guiana. A Exxon Mobil já deu o sinal verde para o início da exploração. A empresa deve extrair cerca de 750.000 barris por dia. Os petrodólares deverão movimentar boa parte da economia. Até 2024, o pagamento de royalties do petróleo deverá representar cerca de 40% do PIB da Guiana, segundo o FMI.
As cidades situadas no litoral, próximas à capital e às áreas de exploração das bacias offshore, vêm experimentando uma expansão inédita de setores como a construção civil, comércio e serviços. Ao mesmo tempo, grandes multinacionais de petróleo e gás, como a Total e Exxon Mobil, preparam o início da operação no litoral do Suriname, onde há de três a quatro bilhões de barris de reservas, segundo especialistas. A expectativa é que o novo boom de recursos naturais possa tirar ambos os países do subdesenvolvimento ? com espaço para a expansão de acordos comerciais e parcerias com os vizinhos.