Fusões e aquisições mudam a cara do varejo de vestuário. Quem comprou quem
Novo cenário econômico mundial tem trazido nova luz ao varejo de vestuário, um setor acostumado a se reinventar, de forma ágil
Por Vincent Baron*
Desde o início da pandemia, o segmento varejista, de forma geral, viu-se diante da necessidade de se adaptar a novos comportamentos do consumidor. O varejo de vestuário, especialmente, foi um dos mais impactados pelo distanciamento social e aumento da atividade profissional em home office. Hoje, tem protagonizado uma série de mudanças importantes em sua dinâmica e estrutura de operação, e com a tendência de forte recuperação, novos movimentos devem garantir a boa performance do setor.
O primeiro movimento relevante é o aquecimento das operações de fusão e aquisição entre players do setor. Desde o início de 2020, grandes operações, como as realizadas entre o grupo Soma e a Hering, e também entre a Arezzo e a Reserva, dão ideia da alta atividade neste segmento. Com as operações ocorrendo entre os players, o cenário tornou-se mais positivo para as empresas que não tinham mais alternativas para se refinanciar e capitalizar, e que viram na venda ou fusão uma boa oportunidade. E a consolidação de negociações importantes como estas já anunciam boas novas com relação ao potencial de aquecimento futuro do setor, na visão das próprias varejistas.
Esta nova dinâmica em que os grandes grupos buscam sua consolidação por meio de aquisições altera significativamente um movimento que vinha acontecendo há mais de uma década, quando fundos passaram a investir em marcas consolidadas, como Dudalina e Le Lis Blanc. Estes fundos tiveram o incentivo de uma visão financeira forte, mas esbarraram na falta de know-how industrial e setorial, uma vez que não tinham experiência em varejo, o que levou muitas destas operações a não alcançarem o sucesso esperado. Nestes casos, muitas empresas não conseguiram ampliar a marca adquirida a longo prazo e vivenciaram ciclos financeiros curtos, o que não é o ideal para a expansão.
Já as transações que acontecem entre empresas do mesmo segmento são estimuladas por outro cenário. As varejistas que vão às compras geralmente têm bastante experiência, estão bem alavancadas, não passaram por competição de preços e possuem boa estrutura para incorporar novas empresas.
No mesmo período, um segundo movimento também influenciou a operação do varejo de vestuário. As importações de peças da China, em um período de desindustrialização no Brasil, eram realizadas em grande escala antes da pandemia. Muitas empresas brasileiras importavam quase 100% de sua produção. Porém, a recente alta do dólar frente à desvalorização do real, ao mesmo tempo em que se verificou uma grave escassez na quantidade de contêineres para importação, elevando preços e prazos de entrega, tornaram a importação inviável.
Esta inversão forçou empresas de vestuário a buscarem novas opções de fornecimento, destacando a produção nacional. A nova demanda trouxe relevância às empresas de pequeno e médio porte, especialmente às que, sem condições de importar, tiveram que desenvolver unidades de produção próprias.
Estes varejistas tiveram que iniciar produção interna, o que, agora, traz ganhos em competitividade. A mudança no fluxo de fornecimento alterou o equilíbrio do mercado, que viu a necessidade de não apostar suas fichas em uma única alternativa. Se antes não eram as mais desejadas, as empresas que possuem fábricas próprias, agora, passam a ser as mais atrativas para compra, por trazerem a alternativa da produção local, o que também aquece a economia interna e a geração de empregos.
O novo cenário econômico mundial tem trazido nova luz ao varejo de vestuário, um setor acostumado a se reinventar, de forma ágil. Novas negociações entre varejistas aumentam o dinamismo do setor e estimulam todo o mercado à inovação. E este é um fator fundamental para movimentar também pequenos e médios negócios de varejo, que agora passam a ser fundamentais para equilibrar o ritmo da retomada econômica.
*Vincent Baron é Managing Director da Naxentia
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