Plataforma de crédito sem garantia para pessoa física já concedeu cerca de R$ 2,5 bilhões em linhas
Se o mercado de ações perdeu o apetite para fintechs, ou pelo menos reduziu bastante, o mesmo não vale para o venture capital. Dona das duas plataformas de crédito pessoal sem garantia, a Rebel e a Geru, a Open Co acaba de levantar R$ 600 milhões em uma rodada liderada pelo Softbank e acompanhada pelos fundos que já são acionistas da empresa ? Raiz Investimentos, IFC e LTS.
É a segunda capitalização no ano e mais do que 4 vezes superior aos R$ 140 milhões levantados ainda no primeiro trimestre, logo após o anúncio da fusão das companhias e a criação da Open Co tal como é hoje. É justamente daqui para frente que serão definidos os vitoriosos desse mercado.
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?Estamos construindo essa operação há sete anos. Sabemos que nosso foco é extremamente desafiador e, quando começamos, ouvimos de muita gente que iríamos quebrar. Mas fomos persistentes e obstinados em entender esse mercado?, enfatiza Sandro Reiss, co-fundador da companhia, em entrevista ao EXAME IN.
Reiss foi responsável pela fundação da Geru, em 2015, e Rafael Pereira, no ano seguinte, deu a largada na Rebel. As empresas se uniram em fevereiro deste ano e a transação ficou conhecida como ?a fusão da maior com a que cresce mais?.
Os novos recursos serão usados principalmente para reforço da tecnologia e aprimorar os produtos, de forma a acelerar o crescimento. No fim do primeiro semestre deste ano, em entrevista ao EXAME IN, Reiss e Pereira contaram que tinham como meta terminar este ano com um total acumulado de R$ 1 bilhão em crédito concedido.
O cenário, de lá para cá, se tornou muito mais hostil, a inflação explodiu, acumulando mais de 10% ao ano, e levou a uma alta na taxa de juros sem precedentes mesmo na história do Brasil, em termos percentuais. ?Foi muito mais desafiador do que imaginávamos, mas conseguimos chegar muito perto da meta. Vamos ficar pouca coisa abaixo?, afirma Reiss. Esse volume é mais do que dobrar os R$ 390 milhões concedidos pelas plataformas ao longo de 2020.
Reiss e Pereira sempre se colocam como críticos do modelo de crédito brasileiro, até então super concentrado nos cinco maiores bancos comerciais do país. Para ele, o país vive um círculo vicioso em que o crédito para pessoa física é caro porque a inadimplência é alta e o índice de default é elevado porque o custo é exagerado ? as coisas se retroalimentam.
?Quando decidimos criar a Open Co, nós nos propusemos basicamente a três objetivos para o ano: garantir que conseguiríamos extrair o benefício da fusão, voltar a crescer e desenvolver novas formas de nos relacionarmos com os clientes?, conta Reiss. Segundo ele, a capitalização do Softbank é um momento muito importante, porque mostra que conseguiram avançar no caminho proposto e ainda mostrar que conseguem ser rentáveis em um segmento bastante difícil de operar.
Até junho, juntas as plataformas forneceram quase R$ 2,5 bilhões em crédito e geraram uma economia em taxa de juros da ordem de R$ 3,5 bilhões para os clientes que usaram os produtos.
Entre as formas de alcançar os clientes, a Open Co tem se dedicado cada vez mais a abrir frentes de parceria para chegar aos clientes, oferecendo linhas diretamente com varejistas para o modelo ?buy now, pay latter? ? exemplo disso, são as operações com a Ame Digital, carteira eletrônica da Americanas, e com a Voltz, conta digital da Energisa. Há dois anos, essa forma de levar o crédito representava 8% das ofertas de novas linhas e agora esse percentual está em 35%.
O mercado, porém, é muito maior. O mercado de crédito sem garantias movimenta R$ 1,1 trilhão ao ano, dos quais mais de R$ 700 bilhões correspondem a créditos rotativos, uma das modalidades mais caras disponíveis, que ultrapassa os 300% de juros ao ano ? comparado a menos de 20% em outros países. Cerca de 52% dos brasileiros recorrem ao crédito para pagar suas despesas básicas, segundo o empreendedor, e o resultado da combinação da demanda com os juros altos é responsável pela existência de 62 milhões de negativados. ?Quando a gente junta essas duas informações, o que se percebe é que, na realidade, os bancos não atendem ninguém.?
O objetivo da companhia é ter, pelo menos, 5% desse mercado sem garantias. ?Quando chegarmos lá, vamos querer mais, claro?, enfatiza Reiss. ?O que acontece hoje é crescemos e crescemos e menos assim não chegamos a 1% porque é um segmento ainda com muito espaço. Na visão da empresa, o volume total do mercado poderia ser maior, não fossem as condições que atualmente são pouco atrativas. As taxas cobradas pela Open começam em 1,9% ao mês e são personalizadas de acordo com o perfil do tomador. Na média, as linhas são 50% mais baratas que nos bancos comerciais e representam entre 1/5 e 1/6 do custo do rotativo (o mais utilizado).
A Open Co tem como objetivo melhorar o ambiente financeiro para o brasileiro médio e, com isso, contribuir para que a população entenda o que é crédito e pare apenas de acumular ?dívidas?. Reiss explica que a companhia não divulga os dados de clientes totais, mas conta que entre aqueles que não se tornam inadimplentes (e, por isso, deixam de ser aptos a novas linhas), cerca de 50% retorna para buscar novos recursos.
Entre os desafios de atuar nesse mercado, além de dados que permitam uma oferta mais assertiva e com risco bem administrado, é preciso entender que a renda de grande parte dos brasileiros é volátil, pois eles atuam na informalidade. ?É preciso ser flexível, portanto, com a forma como essas pessoas podem pagar pelo crédito. Na maioria das vezes, o que se no país é que as pessoas tentam usar o crédito para normalizar seu fluxo de caixa e acabam sendo dragadas para uma bola de neve.?
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