Alunos com Ensino Superior passam melhor pela crise, mostra estudo
Embora questionado, Ensino Superior ainda é o principal passaporte para ascensão no Brasil. Pesquisa com egressos mostra que formandos têm mais empregos e melhores salários
Alunos formados no ensino superior nos últimos anos têm conseguido melhor colocação no mercado de trabalho e maiores salários ? mesmo em meio às dificuldades na pandemia.
A conclusão é de pesquisa feita com mais de 8.500 alunos e ex-alunos pelo Instituto Semesp, da associação de mantenedoras do ensino superior, em parceria com a consultoria de mercado de trabalho Symplicity e apoio das empresas de recursos humanos Cia de Talentos e InfoJobs.
Dentre os formados que responderam ao questionário, em instituições públicas e privadas, 82% disseram ter obtido melhorias após a graduação, como melhores salários, promoção, efetivação após um estágio ou obtenção do primeiro emprego.
O impacto da crise, como esperado, foi maior para a geração que se formou nos últimos três anos. Ao todo, 64% dos egressos que ainda não conseguiram o primeiro emprego se formaram entre 2019 e 2021, diretamente impactados pelos anos de pandemia.
Ainda assim, mais de 70% dos formados, dos mais antigos aos mais novos, estão atualmente trabalhando.
A pesquisa teve respostas dos alunos por meio de questionários online. Os respondentes são de 194 escolas de ensino superior em todo o Brasil, sendo 98% de instituições privadas.
Os números do Semesp corroboram resultados mais amplos vistos na última Pnad trimestral, do IBGE. No segundo trimestre deste ano, 72% dos brasileiros com ensino superior estavam trabalhando, ante 59% dos que tinham somente o ensino médio.
A taxa de desocupação medida na Pnad, que leva em conta os brasileiros que estão efetivamente procurando emprego, também foi menor entre os formados no ensino superior, de 7,5%, contra 16,4% entre os com ensino médio.
A empregabilidade neste grupo se refletiu em melhores salários. No grupo ouvido pelo Semesp, mais de 50% dos egressos de faculdades privadas e 60% das públicas ganhava 3.000 reais ou mais - com fatia maior nas públicas ganhando entre 5.000 e 10.000 reais.
O rendimento médio do trabalhador brasileiro no trimestre até agosto foi de pouco menos de 2.500 reais, segundo a Pnad/IBGE. Dos brasileiros formados só no ensino médio e que atualmente trabalham, a fatia é de 12% com salário acima dos 3.000 reais.
Essa relativa estabilidade no mercado de trabalho, na comparação com os menos escolarizados, explica em grande parte os motivos que fazem o ensino superior seguir sendo um atrativo passaporte de ascensão social no Brasil.
Apesar dos (muitos) percalços, quando instados a responder ?com base em sua experiência? nos cursos, oito em cada dez alunos concordaram na pesquisa da Semesp que o ensino superior ?garante maior empregabilidade?.
Não significa, é claro, que a situação para os formados é totalmente confortável. Desde antes da pandemia, o Brasil convive com taxas crescentes de desemprego em todos os grupos socioeconômicos, e chegou ao ápice de ter metade da população ativa sem trabalhar em 2020. A alternância entre momentos de recessão e crescimento quase nulo desde 2015 também atrapalha a criação de vagas para os trabalhadores qualificados.
O número de respondentes trabalhando na pesquisa da Semesp, por exemplo, cai de 70% para cerca de 50% entre os que dizem trabalhar especificamente em sua área de formação. Com a crise, muitos jovens têm relatado trabalhar em ocupações que exigem nível de instrução inferior à formação.
?E principalmente quando temos desemprego alto, há esse velho problema de exigir experiência, que o aluno egresso nem sempre tem?, diz Rodrigo Capelato, diretor-executivo da Semesp, em coletiva de imprensa sobre os resultados.
Outro destaque para os organizadores foi o alto número de engenheiros de diversas áreas que trabalham, por falta de oportunidade, em um setor diferente da formação (caso de quase 30% dos respondentes de engenharia química, ambiental e de produção).
Por outro lado, Capelato nota que a empregabilidade entre os respondentes é alta nos cursos ligados à saúde e tecnologia: 100% em medicina disseram trabalhar na área de formação, além de mais de 90% em ciência da computação e engenharia da computação e quase 80% em farmácia e odontologia.
Matrículas estagnadas
O Brasil deu um salto em número de alunos cursando o ensino superior desde os anos 2000, com ampliação das vagas em universidades públicas, programas de bolsa em instituições privadas (via Prouni) e de financiamento (via Fies).
O número de matrículas subiu mais de 40% desde 2009 e superou 8,6 milhões em 2019, data do último Censo da Educação Superior divulgado pelo Inep, autarquia do Ministério da Educação.
Apesar dessa movimentação, devido ao investimento tardio no acesso à educação, o Brasil ainda tem número muito baixo de alunos com ensino superior na comparação com outros países.
Entre os adultos de 25 a 34 anos, só 21% dos brasileiros concluíram esta etapa. A taxa é inferior à de países latino-americanos como México, Colômbia, Chile e Argentina (esta última tem 40% dos adultos nessa faixa etária graduados). Nos países europeus e nos EUA, o número fica acima de 40% ou 50%.
Além disso, na prática, o Brasil vive redução de matrículas presenciais no ensino superior desde 2014. A movimentação é resultado da redução nos tamanhos de Fies e Prouni, queda no orçamento das faculdades públicas e impacto das sucessivas crises na renda das famílias.
O perfil socioeconômico de alunos atendidos também é mais diverso. Segundo o Semesp, estão matriculados nos cursos totalmente à distância muitos alunos mais velhos (acima dos 30 anos) e de renda mais baixa; mais de 73% nessa modalidade já trabalhavam antes de ingressar na graduação, ante menos de 50% dos alunos presenciais.
Como a maioria dos alunos trabalha fora da área de formação e não pode abrir mão de renda para fazer estágios, o cenário dificulta a obtenção de experiência. A busca por mais atividades práticas e auxílio em vagas de estágio está entre as maiores demandas dos estudantes, segundo a pesquisa.
Alunos responderam que parte das faculdades vêm implementando programas como feiras de estágio, orientação para carreira e currículos e networking. Ainda assim, nos cursos EaD, quase 80% dos alunos ainda não havia feito estágio até a data da pesquisa, ante 65% no presencial.
Já as atividades extracurriculares nas faculdades, como empresas júniores e entidades estudantis ? marca registrada das universidades de excelência ?, se mostram quase inexistentes. Só 1,3% dos entrevistados de cursos à distância e 5,3% dos presenciais privados disseram que a instituição abriga uma empresa júnior.
Capelato, do Semesp, concorda que este é um desafio com o qual as instituições precisarão lidar em um mercado de trabalho concorrido, fazendo com que os momentos presenciais dos alunos tenham atividades práticas e mais relevantes do que somente as aulas teóricas.
Para além do financiamento geral, Capelato argumenta que poderiam ser feitas políticas de financiamento, nos cursos presenciais e à distância, focalizados na formação em áreas prioritárias e de alta demanda, como saúde, tecnologia e licenciaturas.
"Há ainda um desemprego bastante grande entre os formados. O país poderia aproveitá-los muito melhor, incentivando os que queiram se formar em áreas estratégicas", diz. "Seria possível equalizar melhor e atender ao mercado de trabalho."
Os desafios e demandas para o ensino superior do século 21 são grandes. Mas tudo somado, o Brasil precisa garantir - sobretudo aos alunos mais pobres historicamente excluídos desse processo - o acesso à formação e, uma vez matriculados, a boas oportunidades. A diferença na folha de pagamento ainda vale a pena na maior parte dos casos.
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