O desafio será aproveitar dados gerados para colocá-los a serviço do desenvolvimento dos negócios, por isso a importância da computação quântica
Por Manuel Macedo*
A tendência de digitalização em todos os setores está se acelerando cada vez mais. Previsões, como a da consultoria de dados Statista, sugerem que nos próximos dez anos haverá 50 bilhões de dispositivos conectados, analisando e gerando informações, dando origem ao boom da Internet das Coisas (IoT).
O grande desafio que enfrentaremos será aproveitar os dados gerados para colocá-los a serviço do desenvolvimento dos negócios, mas essas enormes quantidades de informações são quase impossíveis de serem analisadas com os computadores atuais. É aqui que reside a importância da computação quântica para o futuro da indústria 4.0.
Apesar de o conceito de Computação Quântica aparecer cada vez com mais frequência, ele ainda é uma novidade. Em essência, os computadores quânticos são máquinas muito poderosas, capazes de certos cálculos e processamento massivo de informações que levariam anos, ou mesmo séculos, para serem executados usando outro método.
A computação quântica é uma perspectiva para revolucionar, ainda mais, a maneira como viveremos nos próximos anos, com aplicações em praticamente todos os setores. Entre os primeiros casos de uso visualizados para essa tecnologia, cinco setores se destacam inicialmente: aeroespacial, químico, saúde, logística e financeiro.
Suas aplicações são promissoras. Na química, por exemplo, a computação quântica poderia ser usada para simular as propriedades e o possível comportamento de novas estruturas moleculares. Um dos objetivos é explorar soluções para substâncias de baixo impacto ao meio ambiente, como refrigerantes que não agravam o aquecimento global ou novos solventes para reduzir o dióxido de carbono.
O desenvolvimento dos segmentos de saúde e farmacêutico também pode ter avanços importantes usando a computação quântica. Por exemplo, pode reduzir significativamente o tempo e custo de pesquisa, além de desenvolvimento e produção de novos tratamentos médicos. Se, em média, um novo tratamento leva entre dez e 13 anos para chegar ao paciente, com essa tecnologia a fase pré-clínica poderia ser reduzida significativamente, o que se traduziria diretamente em economia nos custos de produção, que poderiam chegar a US$ 2,5 bilhões.
Na indústria aeroespacial, o poder da computação quântica pode ser usado para resolver problemas complexos antes que eles aconteçam ou encontrar a melhor solução para uma eventualidade que poderia comprometer o desempenho da aeronave. Por exemplo, se uma tempestade ameaçou as operações de uma companhia aérea, ela poderia determinar as rotas alternativas mais eficientes para minimizar o impacto nas viagens programadas.
Atualmente existem algoritmos em computadores tradicionais que resolvem alguns dos problemas da indústria aeroespacial, mas eles não são capazes de considerar todas as variantes envolvidas nas operações de uma companhia aérea, ou levaria anos para isso. Com a computação quântica, simulações e cálculos poderiam ser realizados em muito menos tempo, permitindo que a emergência fosse contornada.
Poderia também designar quais são os aeroportos ideais para preparar peças de reposição para os aviões, ou os pontos ideais para alocar recursos para que os itinerários dos passageiros, equipamentos de manutenção ou tripulação não sofram atrasos.
A logística poderia aproveitar essa tecnologia para tornar seus processos de armazenamento, processamento e entrega ainda mais eficientes. Armazéns e centros de distribuição integram cada vez mais sensores, bem como máquinas conectadas, que geram enormes quantidades de informações. Os computadores quânticos podem designar os locais ideais para colocar sensores para coletar os dados mais valiosos. Além disso, aceleraria o processo de Machine Learning para analisar as informações obtidas e tomar melhores decisões. Isso até ajudaria a determinar as rotas mais eficientes para trabalhadores ou robôs dentro do depósito.
Embora possa parecer uma tecnologia trazida do futuro, ou da ficção científica, a computação quântica já está à disposição das empresas e, nos últimos anos, temos alcançado avanços surpreendentes, tornando este progresso tecnológico uma realidade cada vez mais próxima. Muitas empresas investiram em seu desenvolvimento e, até mesmo, fizeram alianças como a da Honeywell com a Microsoft, que visa tornar essa tecnologia acessível a pesquisadores e cientistas.
A computação quântica não é ficção científica. É uma tecnologia real que transformará nosso futuro e o de praticamente todas as indústrias. É uma tecnologia disruptiva que resolverá vários problemas no ecossistema de negócios atual.