?Normalidade? é uma ponta do que aconteceu e tem acontecido de verdade nas organizações; abaixo da linha do mar, há fenômenos que ainda não emergiram
Por Bia Magalhães e Rachel Mello*
Demos uma parada na coluna por algumas semanas. Estávamos cansadas. E quem não está? A sensação é que o ano de 2020 ainda não terminou (mas em nada nos lembra o 1968, de Zuenir Ventura ou d´Os sonhadores de Bertolucci). A pandemia parece ter esticado a corda de um tempo que parece um continuum. Mas eis que a vacinação avança, a ciência se comprova e faz reduzir drasticamente o número de casos graves e mortes de covid e o verão se aproxima.
É hora de fazer corajosos balanços e planos cuidadosos para o ano novo. A comunicação interna é parceira essencial nessa hora.
Durante a pandemia, vimos em muitas empresas clientes um esforço para manter uma certa normalidade. Um trabalho importante e, em boa medida, bem sucedido. As equipes se reorganizaram, a tecnologia da informação assumiu um papel ainda mais relevante, as dinâmicas de trabalho e relacionamento foram acomodadas em diferentes bases, mas ainda com lógicas muito semelhantes ao trabalho tradicional, pré-pandemia, apenas mais intermediadas pelas telecomunicações. Em muitos casos, aparentemente, isso funcionou.
Mas como os icebergs, essa ?normalidade? é uma ponta do que aconteceu e tem acontecido de verdade nas organizações. Abaixo da linha do mar, há fenômenos que ainda não emergiram ou não deram sinais, mas que estão ali, como bolhas procurando espaço para chegar à superfície.
Há alguns indicadores visíveis dessa efervescência. Em países com ampla oferta de empregos, como nos Estados Unidos, empresas sofrem com a escassez de mão-de-obra, causada em parte, pelo que está sendo chamado de a grande demissão (em inglês, the great resignation), quando quatro milhões de americanos desistiram de seus empregos por diferentes razões. Em resumo, por cansaço, por não toparem mais as regras de emprego mais trabalho.
Outro sinal importante, que tem sido identificado por muitos clientes, são as crises organizacionais que afetam a saúde mental dos funcionários. Muitas medidas já estão sendo tomadas e isso é bom. O debate tornou-se público e tem ganhado visibilidade e respostas. Mas ainda não sabemos o quão profundo e extenso é o estado de exaustão das pessoas diante do medo, da angústia, da insegurança, do isolamento provocado pela covid-19. Como canta a música, é preciso estar atento e forte.
É preciso ter coragem, coragem organizacional. Se ao final do ano, circulam as planilhas de resultados financeiros, balanços anuais, em 2021, é preciso fazer circular a planilha sobre o estado psíquico e emocional de quem trabalha conosco. Uma planilha não apenas contábil, mas afetiva. Precisamos reconhecer que estamos todos no limite (ou quase todos).
É preciso pensar fora da caixa e propor novas formas de confraternização, do gozo das férias de final de ano, de celebração da chegada de um ano novo. É preciso repensar a nossa forma de nos relacionarmos no ambiente de trabalho.
Como no mito grego, Perséfone começa a sair do submundo e vai subir ao rés do chão trazendo um novo tempo. Vem chegando o verão, o calor no coração, essa magia colorida, coisas da vida...
Para além dos números, pensemos em honrar o que passou e celebrar a vida!
*Bia Magalhães é especialista em Comunicação Interna com formação em Comunicação Organizacional. Está na FSB Comunicação há 7 anos atuando em projetos digitais e de comunicação corporativa e Rachel Mello é jornalista, mestre em Comunicação Social e diretora de Planejamento na FSB Comunicação. Mãe da Isabel e torcedora do Atlético Mineiro
Este é um conteúdo da Bússola, parceria entre a FSB Comunicação e a Exame. O texto não reflete necessariamente a opinião da Exame.
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