Temos que criar situações para que a tecnologia melhore e ajude a resolver nossos problemas, e que também viabilize as nossas experiências ao vivo
Por Andrea Fernandes*
Se você acompanha meus textos aqui na Bússola/Exame, sabe que tenho algumas crenças muito fortes. Elas estão ligadas aos meus valores mais fortes e minhas paixões, e assim, guio grande parte das decisões e rumos da minha vida.
Esse texto, inicialmente seria sobre algumas experiências no Web Summit, evento que aconteceu em Lisboa no começo do mês e trouxe novidades do mundo digital, e-commerce e mercado de trabalho, mas nessas últimas semanas tive algumas provas de que as coisas estão no rumo certo, então vou misturar um pouco do evento com outras experiências pessoais ? e no final das contas, acho que essa é a graça da vida.
Um dos grandes assuntos que mais me fisgou no Summit foi sobre o futuro do trabalho ? e se você quer uma resposta clara e objetiva sobre como vão ser os próximos anos, já te digo que não existe uma alternativa única e absoluta. Eu explico?
Sempre acreditei que não existe um jeito certo ou errado de fazer as coisas. Cada realidade tem suas vantagens e desvantagens, e o futuro está justamente aí, na composição de mais de um modelo para, no final do dia, colocar a pessoa no foco. Esse é um dos grandes problemas em modelos prontos ? eles buscam solucionar dificuldades do trabalho e sim, e não do trabalhador.
Outro tópico muito falado foi do quanto a distância, que antes era um problema, se tornou ferramenta e, eventualmente, até solução para negócios digitais. O tamanho da oportunidade de contratação e criação de um Talent Pool que o trabalho remoto traz é surreal. A possibilidade de contratar gente de muitos lugares do Brasil e quem sabe do mundo, com histórias, vivências e experiências é tão relevante quanto um diploma ou outros skills listados como básicos para vagas tradicionais.
Aí, vem o questionamento: um encontro presencial, para muitos, faz a diferença, inclusive para mim, mas precisa ser todos os dias? Precisamos escolher onde vamos morar considerando onde trabalhamos? Precisamos perder tanto tempo de deslocamento?
Confesso que os dias que passei em Portugal, na Itália e agora, em Curitiba (de onde escrevo esse texto), foram incríveis, especialmente pelos encontros. Pela primeira vez conheci amigos que fiz na minha época de Kraft Heinz, com quem trabalhei a distância e criei fortes laços -isso foi tema de uma coluna minha com o Ricardo Piccoli em agosto. Em Lisboa, estive muito próximo do Leo Frade, CEO da Aftersale e do Fabrício Dantas, CEO da Neotrust, que moram em Curitiba. Isso motivou, inclusive, essa minha viagem ao Paraná, para encontrar todo time do T.Group que mora aqui (hoje, quase 30% dos nossos 250 colaboradores estão na região metropolitana de Curitiba).
Esses dias me fizeram refletir e reforçar a minha crença do quanto, sem dúvida nenhuma, estar presencialmente com as pessoas é incrível, delicioso e algo que jamais quero perder. Mas, isso dito, tenho que reconhecer que realmente temos uma capacidade gigante de gerar conexões e criar relações pelo digital. Encontrei dezenas de pessoas pela primeira vez ? sendo que sinto que as conheço profundamente há anos.
Aí, entender que somos pessoas diferentes, e que temos, portanto, necessidades e sonhos diferentes é fundamental. Uma das palestras que eu vi no Web Summit falava disso, fazendo um link com benefícios. Para uma família monoparental, as questões e prioridades são diferentes, logo, os benéficos deveriam também ser diferentes. Esse é um dos pontos que estamos, nesse momento, revisando no T.Group. Se tiverem experiências, inclusive, conto com a ajuda de vocês.
O futuro e o presente estão nas nossas mãos e somos nós que podemos decidir o que e como viver nesse novo mundo. No final das contas, temos a oportunidade de mudar e repensar tudo que não deu certo hoje.
As máquinas vão nos ajudar a chegar lá, serão as nossas principais ferramentas, mas não podemos esperar que a tecnologia resolva a nossa vida e os nossos problemas.
Se antes, tínhamos medo de que as máquinas e robôs nos substituíssem, hoje está claro que eles vão nos ajudar em tarefas repetitivas e permitir interações genuínas e felizes no ambiente de trabalho. A TV não matou o rádio. O YouTube não matou a TV e a Netflix também não matou o YouTube.
Temos que criar situações para que a tecnologia melhore e ajude a resolver nossos problemas e que ela também viabilize e intensifique as nossas experiências com as nossas paixões.
É aí que o jogo vira.
*Andrea Fernandes é CEO do T.Group
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