Receita do terceiro trimestre supera R$ 16 milhões e companhia tira projetos pré-IPO represados do papel
A GetNinjas, market-place entre profissionais prestadores de serviços e clientes, trouxe um balanço de terceiro trimestre no qual mostrar estar entregando exatamente o que prometeu durante o processo de abertura de capital: crescimento e desenvolvimento do seu produto. Se o ritmo está adequado, cabe aos investidores decidir. A receita líquida cresceu 43% na comparação anual, para R$ 16,34 milhões. Além disso, tem no forno, novidades que vão colocá-la na rota de ter sua própria fintech, a exemplo do Mercado Pago, dentro do Mercado Livre.
A companhia fez sua oferta pública inicial em maio (IPO), quando captou perto de R$ 320 milhões, em uma operação ancorada pelas gestoras Verde, Miles e Indie. O dinheiro está sendo gasto com parcimônia, pois o caixa saiu de R$ 326 milhões, em junho, para R$ 308 milhões, ao fim de setembro. Embora esteja atenta a oportunidades de aquisições, o fundador e presidente da empresa, Eduardo L?Hotetellier, reforça sua crença de que a principal geração de valor para o seu negócio ?virá do nosso time e do nosso próprio produto.?
A companhia está usando o dinheiro levantado para fazer o que havia de mais represado na sua vida como startup digital, que é investir na contratação de profissionais mais seniores e em marketing ? algo essencial no seu tipo de atuação. O número de colaboradores alcançou 222, ante 120 na fase pré-listagem na bolsa.
?Queremos melhorar nosso algoritmo de matching entre os profissionais e os clientes e o tempo de resposta na contratação de serviços?, enfatiza em entrevista ao EXAME IN. Nesse sentido, o crescimento só ajuda nessa evolução, pois é a velha máxima do mundo digital: quanto mais dados, mais eficiência; quanto mais eficiente, mais clientes. Até a abertura de capital, o foco esteve concentrado em revisão de processos e preparo para expansão e a partir da segunda metade do ano, o foco passou a ser tirar os planos acumulados por ano do papel.
Dessa forma, a companhia que durante o pré-IPO havia demonstrado ter encontrado o caminho da lucratividade com sua operação, voltou a ter Ebitda negativo e prejuízo, pois está investindo na aceleração do crescimento. Quando faz o esforço de expansão, a GetNinjas afeta menos sua base de custos e mais suas despesas operacionais.
O lucro bruto cresceu 35% na comparação anual do terceiro trimestre, para R$ 15 milhões. A margem bruta do negócio histórica é de 92%, de acordo com L?Hotellier. No ano passado chegou a 97% porque a base de custos ficou deprimida ? e distorcida ? por programas de redução de custos promovido por fornecedores dentro do esforço de sustentação da economia durante a pandemia. Além disso, cadastrou 463 mil novos profissionais só nesse trimestre (142% a mais do que há um ano), e essa largada exige algum gasto da empresa.
Já o Ebitda saiu de R$ 1,5 milhão positivo para R$ 13,86 milhões negativos no terceiro trimestre, com impacto do aumento de 205% nas despesas comerciais (onde fica o marketing) e de 86% nos gastos administrativos (linha da folha de pagamento). A última linha do balanço ficou negativa em R$ 10,68 milhões no terceiro trimestre ? a companhia teve receita financeira líquida superior a R$ 4 milhões ?, ante um lucro líquido de R$ 1,35 milhão em 2020.
Transações
A base de profissionais cadastrados está atualmente em 3,7 milhões, com mais de 500 categorias. Ainda que a variedade de ofertas tenha aumentado, com serviços como professores de piano, de skate, entre outros, a categoria reformas e reparos ainda predomina.
Hoje, a empresa cobre mais de 60% dos municípios do país e acima de 90% da geração de riqueza (Produto Interno Bruto ? PIB). O número de pedidos feitos de julho a setembro totalizou 1,4 milhão, uma alta de 17% na comparação anual.
Fintech
Como parte da estratégia de melhorar o seu market-place, L?Hotellier conta que a GetNinjas começou a testar a ?Proteção Ninja?, nos três estados da região Sul do país. Trata-se de um sistema que visa dar mais segurança ao cliente. Se o consumidor não ficar satisfeito, tem direito a um novo prestador do mesmo serviço ou um valor teto de reparação.
A solução deve estar disponível para a maior parte da base no começo de 2022. Questionado se isso pode desembocar numa fintech, como ocorreu com o Mercado Pago, comparação usada pelo próprio empreendedor, L?Hotellier confirmou. ?É um caminho natural, mas não porque queremos ter essa plataforma. Isso não é um objetivo, é uma consequência do esforço de melhoria do market-place.?
Ele falou, após ser questionado, a respeito da dificuldade cultural ainda no uso da plataforma, pois os prestadores de serviço vão entrar na casa dos clientes. ?Mas é uma questão de hábito. Há poucos anos, também não alugávamos o quarto na casa de uma outra família ou entrávamos no carro de estranhos?, comparou ele, destacando serviços de plataformas como AirB&B e Uber. A ferramenta vem justamente para ajudar no desenvolvimento da confiança e dessa cultura.
A perspectiva é que, assim como ocorreu com o Mercado Pago, com o passar do tempo, o benefício esteja disponível apenas para quem usar as soluções de pagamento da própria GetNinjas, o que vai dar mais segurança também para os profissionais.
A queda na bolsa
Para o IPO, a GetNinjas foi avaliada em R$ 1,04 bilhão. ?Disso, R$ 700 milhões eram o valor da empresa e o restante, era o caixa?, diz o fundador referindo-se principalmente ao valor captado no mercado. Antes disso, a companhia só havia levantado R$ 40 milhões em seus dez anos de operação ? completados em outubro.
Agora, na bolsa, vale cerca de R$ 420 milhões. A queda poderia ser considerada de aproximadamente 60%, sobre a avaliação de estreia. Mas L?Hotellier é ainda mais rigoroso em sua análise: ?nosso valor mesmo saiu de R$ 700 milhões para R$ 120 milhões, porque R$ 300 milhões estão no caixa?. Essa conta leva a um tombo superior a 80%.
Na visão do executivo, há um exagero do mercado na correção. ?Nem o aumento na taxa de juros e o impacto disso na taxa de desconto justifica. Estamos valendo menos do que a avaliação que recebemos na rodada série B, em 2015. E eu cresci 50 vezes nesse intervalo.?
Quando o valor das companhias na bolsa fica próximo da quantia que têm em caixa, elas ficam teoricamente atrativas para se tornarem alvo de ofertas hostis. Questionado a respeito disso, L?Hotellier preferiu não comentar. Apenas afirmou que a companhia está melhor hoje, por ter os recursos em caixa, que não teria sem o IPO.
O sócio-fundador tem hoje 15% do negócio. A GetNinjas não tem controlador, mas tem uma cláusula no estatuto social pela qual quem adquirir mais de 25% das ações fica obrigado a lançar uma oferta pública de aquisição (OPA) para 100% da base de acionistas.
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