Declaração é feita um dia após União negar à estatal a existência de estudos sobre a privatização
O presidente Jair Bolsonaro reafirmou a apoiadores, neste sábado (6), a intenção de "fatiar" ou até "privatizar" a Petrobras. A estatal entrou na mira do chefe do Executivo por causa da alta no preço dos combustíveis, que tem sido alvo de reclamações da população e também contribui para a aceleração da inflação.
"Sabemos da inflação, do aumento de combustíveis. Sabemos, a Petrobras é independente, infelizmente independente. E nós estamos buscando uma maneira de, da nossa parte, ficar livre da Petrobras. Fatiá-la bastante, quem sabe partir para a privatização. Mas sei que isso demora", disse Bolsonaro. O presidente participou de uma passeata de motociclistas em Ponta Grossa (PR) e, ao fim do trajeto, discursou ao lado da prefeita da cidade, Elizabeth Schmidt (PSD).
A declaração de Bolsonaro vem um dia depois de a companhia informar ao mercado que o governo negou a existência de qualquer recomendação de inclusão da privatização da Petrobras no Programa de Parcerias de Investimentos (PPI).
Em 25 de outubro, notícias sobre supostos estudos do Ministério da Economia para vender ações da Petrobras, abrindo mão do controle da companhia, levaram a uma alta expressiva na cotação das ações em bolsa. No mesmo dia, a Petrobras informou ao mercado ter questionado o governo sobre a existência desses estudos.
Ontem, em comunicado ao mercado, a companhia informou que o Ministério de Minas e Energia (MME) disse não ter conhecimento de nenhum ato, decisão ou fato relevante que devesse ser informado à estatal para posterior divulgação ao mercado.
O Ministério da Economia também comunicou formalmente sobre a ausência de qualquer recomendação de inclusão da desestatização no PPI ou quaisquer outros estudos ou avaliações em curso sobre o tema no âmbito à secretaria especial do programa.
Mesmo com os preços já elevados, a Petrobras anunciou um novo reajuste nos combustíveis em 25 de outubro. Na segunda-feira passada (1º), Bolsonaro avisou que faria "jogo pesado" com a empresa, sem detalhar a estratégia do governo em relação à companhia. Na ocasião, o presidente disse ainda saber, de forma extraoficial, que a Petrobras faria um novo reajuste dentro de 20 dias. "Isso não pode acontecer", afirmou naquele dia.
Auxílio Brasil
Sem entrar em detalhes, Bolsonaro defendeu, ainda, a aprovação da PEC dos precatórios. Segundo ele, a proposta vai permitir "dobrar o Bolsa Família", programa que agora foi rebatizado de Auxílio Brasil.
A PEC dos precatórios muda a correção do teto de gastos, regra que limita o avanço das despesas à inflação, e limita o pagamento de dívidas judiciais da União. O conjunto de medidas libera R$ 91,6 bilhões de espaço no Orçamento de 2022 e é essencial para tirar do papel o Auxílio Brasil de R$ 400, como quer Bolsonaro. Parlamentares contrários à proposta, porém, reclamam que a folga fiscal pode acabar sendo usada para turbinar as chamadas emendas de relator, distribuídas a aliados do governo pelo orçamento secreto, revelado pela reportagem e agora suspenso por decisão da ministra do STF Rosa Weber.
O texto-base da proposta foi aprovado em primeiro turno na Câmara na madrugada de quinta-feira (4) por uma margem apertada: 312 votos, quatro a mais que o mínimo de 308 necessários para avalizar uma mudança constitucional. A apreciação dos destaques (mudanças) e do texto em segundo turno está programada para terça-feira (9).
Transatlântico - O presidente Jair Bolsonaro disse, ainda, que "alguns" gostariam que ele desse um "cavalo de pau" em seu governo, mas afirmou rejeitar a ideia, uma vez que "a renovação existe". Sem detalhar o que seria exatamente esse "cavalo de pau", Bolsonaro afirmou a apoiadores em Ponta Grossa que seu limite no cargo de presidente são oito anos - caso seja reeleito em 2022.
Ele também disse ver possibilidades de renovação no Judiciário, principal alvo de críticas de aliados e seguidores. Desde as manifestações de teor antidemocrático do feriado de 7 de Setembro, o presidente tem adotado um tom mais moderado para falar de política e da relação com os demais poderes. Antes, porém, era comum desferir ataques ao Supremo Tribunal Federal e, particularmente, a alguns de seus ministros.
"O Brasil é um grande navio, um transatlântico. Alguns querem que eu dê um cavalo de pau, não dá. A renovação existe. Um dia a prefeita vai nos deixar, eu também, o vice (prefeito), a líder...", disse Bolsonaro, ao lado da prefeita de Ponta Grossa, Elizabeth Schmidt (PSD).
"E no Judiciário também tem renovação", emendou o presidente. Uma apoiadora, cuja identificação não é possível de ser feita na transmissão, reagiu gritando "não vai ter nunca".
Bolsonaro, então, insistiu. "O Judiciário também vai ter renovação. Quem se eleger presidente ano que vem indica dois ministros do Supremo no início de 2023. Vai mudando, vamos oxigenando. E nós não podemos ficar eternamente no poder, isso não é bom. O meu limite aqui são oito anos, o da prefeita são oito anos", afirmou.
Minutos depois, no mesmo discurso, o presidente atacou a Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Covid-19, feita pelo Senado Federal. O parecer do relator, senador Renan Calheiros (MDB-AL), sugeriu o indiciamento de Bolsonaro, três filhos e mais 62 pessoas pelas condutas e omissões no combate à pandemia no Brasil.
"A única acusação bombástica da CPI do Omar Aziz (senador que presidiu a comissão) foi 'temos um presidente que é motoqueiro'" disse Bolsonaro, imitando a voz do parlamentar. "Aquela cara de capivara me chamando de motoqueiro. Me acusou, como se eu fosse ficar indignado", acrescentou.