Responsabilidade com planeta não é só dos governos, é nossa, dentro de casa, na comunidade e na escola, incluindo não comprar papel
Por Fernando Shayer*
Para quem ainda não se deu conta, ou não se convenceu da seriedade da situação climática que iremos enfrentar no nosso planeta, vale a pena acompanhar de perto os estudos científicos que têm sido elaborados sobre o assunto.
Recentemente, as Nações Unidas publicaram um relatório ambiental acerca das metas globais de emissão de gases em que afirmou que o planeta está caminhando para uma elevação de 2,7ºC acima dos níveis pré-industriais (entre 1850 e 1900), muito acima da meta máxima de 1,5ºC. a que se refere o pacto climático de Paris. Em agosto, outro relatório das Nações Unidas indicou que a temperatura já aumentou 1,2ºC. Diante desses dados, o Secretário Geral das Nações Unidas, António Gutierrez, considerou a trajetória atual do planeta ?catastrófica?.
De quem é esse problema? Qual o seu papel na sua resolução? E como ele afeta a educação de seus filhos?
Consciência ambiental é, antes de tudo, uma questão de como nos percebemos no mundo. É comum pensarmos que a natureza é externa a nós, como se não fizéssemos parte dela. Essa descrição, no entanto, é falha. Nenhum de nós existe fora da natureza, estamos integralmente dentro dela. Tudo o que acontece no nosso organismo, todos os processos internos, sejam químicos, biológicos, mentais ou psicológicos, dependem daquilo que está acontecendo na Natureza, e do que estamos compartilhando com ela a cada momento. Como seres vivos, somos tanto parte dela quanto qualquer planta ou animal que está nas nossas casas ou na floresta. De acordo com a Teoria Sistêmica, como seres vivos, somos sistemas (partes) que formam um ecossistema (todo), e que são por ele formados. Somos seres da natureza.
Essa descrição que nos põe fora da natureza é tão falha quanto aquela que utilizamos quando dizemos ?nossa, peguei um trânsito horrível hoje?. Na realidade, ao sair de casa com seu carro, você passou a ser parte do próprio trânsito, contribuindo para que ele aumentasse. Você deveria, portanto, dizer ?nossa, fui um trânsito horrível hoje!?
Essa distinção é sutil, mas é muito importante. Se nós não nos identificamos como seres da natureza (seres vivos), mas apenas como seres humanos, a nossa identidade não se sente ameaçada quando, por exemplo, desmatamos a Amazônia, ou matamos as baleias. Isso é diferente do que sentimos, por exemplo, ao vermos outro ser humano ser torturado: nos choca ver o sofrimento de outro ser humano, porque ele é igual a nós. Nesse sentido, poluir um rio e, assim, dar comida estragada aos peixes, não nos ameaça como dar comida estragada aos nossos filhos. Nessa toada, estamos destruindo o meio ambiente.
Somos seres da natureza e, como tal, temos a obrigação de cuidar de todos os demais seres vivos e de seu habitat. Como humanos, não temos um privilégio sobre a Terra e seus recursos, por mais que tenhamos mais conhecimento tecnológico. Pelo contrário, isso nos dá ainda maior obrigação. E nossa capacidade cognitiva nos permite (ou deveria permitir) enxergar que, se não mudarmos nosso padrão de interação com o planeta, nossos filhos serão muito prejudicados. Isso não é só responsabilidade dos governos, ela é nossa, dentro de casa e também, dentro da escola.
Educação não se faz só com palavras, mas sim com ações. A cada vez que você compra pilhas de livros didáticos impressos no começo do ano, você está contribuindo para o desmatamento, e para uma degradação relevante do ecossistema. Você está ensinando aos seus filhos que isso é uma conduta aceitável.
Hoje, já existem alternativas tecnológicas que permitem a completa substituição do material impresso na escola. Alunos podem usar cadernos e imprimir poucas atividades que dependem de material escrito, além de plataformas digitais. Isso é muito menos papel do que os muitos quilos de livros e apostilas impressas que você compra todos os anos, e que, no ano seguinte, serão jogadas no lixo, porque as dúvidas que surgirem serão tiradas no Google.
Plataformas digitais são muito mais baratas que livros e apostilas impressos. Os dispositivos como tablets e notebooks duram de três a quatro anos e o material digital pode ser atualizado diariamente. Os livros e apostilas impressas são muito mais caras, porque devem ser produzidas e vendidas anualmente para estarem atualizadas, e porque os custos de compra, estoque, produção e distribuição de livros e apostilas num país continental e cheio de desafios logísticos como o Brasil são proibitivos. Esse custo é alto para você e para a natureza.
Por isso, como ser vivo responsável, se eu puder lhe sugerir algo, ajude a escola dos seus filhos a trocar livros didáticos impressos por plataformas digitais (mais cadernos). Desmatar é prejudicar o futuro dos seus filhos e de todos nós seres vivos. E essa não é a função da escola.
*Fernando Shayer é fundador e CEO da Cloe, plataforma de aprendizagem ativa
Este é um conteúdo da Bússola, parceria entre a FSB Comunicação e a Exame. O texto não reflete necessariamente a opinião da Exame.
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