Mesmo com política monetária favorável, Gustavo Arruda vê pouco espaço para queda do dólar em meio à aproximação do período eleitoral
O BNP Paribas acredita que uma elevação da taxa Selic em 1 ponto percentual na reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), como recentemente sinalizado pelo Banco Central, será insuficiente para controlar as pressões inflacionárias.
"Acho que seria prudente acelerar o ciclo de alta de juros. Caso suba em apenas 1 p.p. o juro estaria apenas em ponto neutro ou um pouco até abaixo, porque a expectativa de inflação já andou. Agora a inflação está deixando de ser pontual, tornando-se mais disseminada", disse em coletiva de imprensa Gustavo Arruda, chefe de Research para a América Latina do BNP Paribas.
Segundo Arruda, caso o ciclo monetário demore para reduzir as expectativas de inflação, o país corre o risco de ter uma inflação de volta na casa dos 4,5%. "Não é o que o BC está buscando. Tínhamos uma expectativa de inflação na casa de 3%, agora está caminhando para a casa de 5%. A aceleração [do ciclo de alta de juros] deveria começar já na próxima reunião".
Outro possível consequência, diz Arruda, é o BC ter que subir os juros mais do que esperava inicialmente. "Se não subir logo, pode ter que subir mais." No BNP, a expectativa é de que o ciclo de alta da Selic termine a 10%, com o IPCA batendo 9% no fim do ano.
O BNP vê a alta da taxa de juros beneficiar o real, assim como um cenário favorável para a economia global e para o mercado e commodities. Por outro lado, Arruda acredita que não há grande espaço para a valorização da moeda devido às incertezas eleitorais. "O dólar deve ficar ao redor de 5 reais. O período que viveremos agora de definição de política econômica gera um pouco mais de volatilidade."
Para o próximo ano, o banco francês reduziu as projeções de crescimento do PIB brasileiro de 3% para 1,5%. Mas, dependendo do ritmo de chuvas, o PIB poderia ficar estagnado em 2022. "A crise hídrica deve ser suportada pela inflação, com os impactos se estendendo para o ano que vem, mas sem afetar diretamente o crescimento. Porém, o tempo é difícil de prever. Podemos chegar a um PIB de 0% no ano que vem de uma maneira não muito difícil", diz Arruda.