O governador de Nova York, Andrew Cuomo, é uma das principais figuras políticas dos EUA, no poder há uma década
A política de Nova York está prestes a adentrar uma nova era. O atual governador de Nova York, Andrew Cuomo, renunciou ao cargo nesta terça-feira, 10, após acusações de assédio por mulheres que trabalhavam em seu gabinete.
A renúncia já era esperada à medida em que Cuomo passava a correr risco de impeachment.
O relatório mostrou que Cuomo apalpou, beijou e abraçou mulheres sem consentimento e que fez comentários inadequados a um total de 11 delas, disse a procuradora-geral Letitia James, acrescentando que o gabinete do democrata se tornou um "ambiente de trabalho tóxico" que permitiu que o assédio ocorresse.
O caso marca o fim de um dos governos mais longevos da política de Nova York.
Aos 68 anos e ex-procurador do estado, Cuomo está no governo desde 2011. Ele tem sido repetidamente eleito desde então, o que é autorizado pela legislação do estado.
Antes dos casos de assédio ganharem proporção, o governador havia afirmado que concorreria novamente à reeleição no pleito de 2022.
Sua última eleição havia sido em 2019, quando concorreu nas primárias do Partido Democrata um ano antes contra a ex-estrela da série Sex and The City, Cynthia Nixon (e ganhou com 65% dos votos). Na eleição geral, venceu o republicano Marc Molinaro.
Pandemia
O último mandato de Cuomo foi marcado pelo combate à pandemia ao longo do ano passado.
Nova York foi um dos primeiros epicentros do coronavírus nos EUA, mas conseguiu com o tempo controlar o número de casos e a gestão de Cuomo foi frequentemente centro de embates com o governo Donald Trump, republicano.
No entanto, a gestão na pandemia também é alvo de críticas, com opositores dentro e fora do Partido Democrata afirmando que Cuomo poderia ter feito mais para evitar a tragédia.
Outra polêmica envolvendo seu governo foi uma investigação que acusa Cuomo de ter subnotificado mortes por covid-19 em casas de repouso para idosos no estado em cerca de 50% - com o objetivo, segundo a acusação, de não dar munição para que opositores políticos criticassem ou investigassem sua gestão da pandemia, incluindo o governo federal de Donald Trump.
Em outro caso, que os deputados de Nova York investigavam no processo de impeachment, o governador também foi acusado de ter favorecido a família e auxiliares próximos no oferecimento de testes contra a covid-19 no começo da pandemia, quando os kits ainda eram escassos.
Dinastia
Os Cuomo são uma das famílias mais importantes da política americana. Cuomo é filho do também ex-governador Mario Cuomo, que esteve no cargo em NY por três mandatos, de 1983 a 1994.
Cuomo também foi casado com Kerry Kennedy, filha do ex-senador Robert F. Kennedy (irmão do ex-presidente John F. Kennedy e também morto por um extremista). Com Kerry, teve três filhas, até se divorciar em 2005.
A relação do governador com o irmão Chris Cuomo, apresentador da CNN americana, é também criticada por opositores, que acusam o programa de Chris de fazer uma cobertura favorável ao governador.
O governador já se declarou católico, mas foi criticado por parte da igreja ao apoiar direitos civis como casamento para pessoas do mesmo sexo e direitos das mulheres ao aborto, que foram garantidos em Nova York durante seus governos.
Nos últimos meses, além dos desafios da pandemia, uma das principais medidas do governador foi o apoio à descriminalização da maconha recreativa em Nova York (antes, somente o uso medicinal era autorizado).
A medida havia sido criticada por Cuomo na primária contra Cynthia Nixon em 2018 (o tema era uma das pautas da atriz), mas o governador, já pressionado pelas acusações de assédio, mudou de ideia e apoiou a lei sancionada neste ano.
O futuro em NY
O caso Cuomo deve chacoalhar as estruturas do Partido Democrata em Nova York, um dos redutos eleitorais mais importantes do país.
Com a renúncia, assume o cargo sua vice, Kathy Hochul, que será a primeira mulher governadora de Nova York na história. Cuomo deixará o posto em 14 dias.
A vaga para candidato democrata em Nova York para as eleições de 2022 também fica agora mais aberta - antes, haviam primárias no partido, mas ganhar de Cuomo era quase impossível.
Uma vez que a cidade de Nova York (a mais populosa do estado) é amplamente progressista, o estado costuma eleger majoritariamente governadores democratas. O último republicano eleito foi somente George Pataki, governador entre 1995 e 2006.
O mesmo se repete nas eleições presidenciais. Em 2020, Joe Biden ganhou no estado com 61% dos votos contra Donald Trump. O último presidente republicano a ganhar em Nova York foi Ronald Reagan.