O país registra uma média de 72 vidas perdidas por hora ou um pouco mais de uma por minuto (1,2)
Mesmo com o avanço da vacinação e queda de casos da covid-19 no último mês, o Brasil registra uma média de 72 vidas perdidas por hora ou um pouco mais de uma por minuto (1,2). É o maior patamar de mortes de todo o mundo, à frente de Estados Unidos e Índia, as outras duas nações com mais óbitos pelo coronavírus.
O levantamento é do demógrafo José Eustáquio, que já atuou no Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e na Escola Nacional de Ciências Estatísticas (Ence) por quase 20 anos. Agora, ele trabalha como pesquisador independente.
"A primeira vez que constatei essa média de uma morte por minuto no Brasil, fiquei escandalizado", diz Eustáquio. "Agora estamos com essa média para o ano inteiro; é impressionante." Para ele, mesmo com a melhora recente, a situação ainda exige cautela. "E parece que está tudo normal no Brasil, em termos de movimento, aglomeração, carros na rua, praias lotadas", continua.
Com a alta mortalidade que registrou entre abril e julho, o país acumulou nos primeiros 200 dias do ano 349.000 óbitos por covid-19. Foi seguido pela Índia, com 265.000 óbitos, e pelos Estados Unidos, com 261.000. As médias da Índia são 0,92, e dos EUA, 0,91, conforme Eustáquio, que tratou pela primeira vez do assunto em artigo no site Colabora.
Na soma de 2020 e 2021, os Estados Unidos já têm 613.000 mortes, seguidos do Brasil (557.000) e Índia (425.000). Pelas contas de José Eustáquio, porém, no ritmo atual de aumento do número de óbitos, em no máximo dois meses o Brasil deve ultrapassar os Estados Unidos. "Em setembro ou outubro, infelizmente, teremos o maior número de mortes em toda a pandemia", concluiu.
Na Índia, país com cerca de 1,37 bilhão de habitantes onde uma segunda onda com a variante delta fez explodir o total de mortes e sobrecarregou hospitais, especialistas apontam alta subnotificação. Estudo do Centro para o Desenvolvimento Global estima que o saldo de mortes no país asiático pode ser até dez vezes maior.
Já nos Estados Unidos, com população de 328,2 milhões de pessoas o avanço da imunização desacelerou o aumento de vítimas. O desafio agora é ampliar a cobertura vacinal e convencer uma parcela resistente da população a receber as doses no país, que foi líder de vítimas na maior parte da crise sanitária global
Especialistas apontam que o número crítico no Brasil ocorreu por fatores como as dificuldades de isolamento social efetivo nas cidades, além da demora na aquisição e aplicação de vacinas. Nos dois casos, a atuação do governo Jair Bolsonaro é apontada como decisiva, uma vez que ele minimizou riscos da doença, desestimulou ações de quarentena e o atraso na compra dos imunizantes é alvo de CPI no Senado.
À medida que avança a campanha de vacinação, por outro lado, as mortes por covid-19 vêm caindo no país. As médias diárias de óbitos das últimas semanas são as menores em quatro meses, e houve a desaceleração do número de novos casos da doença, segundo o especialista. A média de mortes ficou abaixo de 1.000 no sábado, 31, pela primeira vez desde o fim de janeiro.
O percentual de brasileiros completamente imunizados, com as duas doses das vacinas (ou dose única, quando for o caso), ainda não chega a 20%. Para Eustáquio, o otimismo excessivo pode ser prejudicial, num momento de disseminação da variante delta, mais transmissível, e de redução das medidas de isolamento.
"As pessoas se comportam como se a pandemia estivesse acabando. O fato de 1.100 pessoas morrerem por dia é banalizado", constatou. "Acho que precisamos estar atentos à entrada da variante delta, olhar para o que está acontecendo no resto do mundo. O número de casos está aumentando novamente em locais como os Estados Unidos e o México. Não quero ser pessimista, mas o Brasil vai registrar aumento também do jeito que as coisas estão indo. É questão de tempo."
De acordo com números do consórcio de veículos de imprensa, em julho (até o dia 27) o Brasil registrou 33.660 mortes por covid. O número representa uma queda muito expressiva (59%) em relação a abril, o pior da epidemia no país. No entanto, é superior aos registros de todos os meses de 2020.
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