A PlantVerd, startup que presta serviços de recuperação de áreas degradadas, quer unir responsabilidade ambiental e social para prestar serviços
Cada vez mais, o mundo -- e as empresas -- valorizam três letrinhas: E-S-G. A sigla, que designa responsabilidade ambiental, social e governança, é cada vez mais valorizada por empresas que desejam crescer num mundo que pede cada vez mais sustentabilidade. Com essa premissa, nasceu a PlantVerd, startup de recuperação de áreas degradadas, que tem clientes como hidrelétricas e concessionárias. Focada em reflorestamento, a empresa participou de projetos recentes na rodovia Nova Tamoios e trabalha com a Fundação Renova para recuperação de áreas em Minas Gerais.
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Além da responsabilidade ambiental que rege seu propósito, a empresa quis trazer para dentro de casa também um viés social: a cada projeto contratado, a PlantVerd procura por egressos do sistema prisional para trabalharem com a empresa no plantio de árvores.
?Tudo começou em um projeto em Caraguatatuba. Estávamos contratando mão de obra para o plantio de árvores e ouvimos comentários de que um dos rapazes que havia se candidatado para a vaga estava preocupado em não ser contratado porque era egresso do sistema prisional. Chamamos o candidato para uma conversa e o tranquilizamos, reforçamos que acreditamos que precisa ser dada uma segunda oportunidades para as pessoas e, inclusive, dissemos a ele que chamasse outros, caso conhecesse, porque iríamos priorizá-los na contratação do projeto. Deu certo?, diz Antonio Borges, CEO da PlantVerd.
A contratação de egressos chama a atenção por estar num status de ?tabu? dentro da sociedade. Mesmo com o decreto nº 9450/2018, que autoriza à administração pública fixar nos editais o emprego de pessoas presas ou de egressos, a reintegração dessas pessoas está longe de ser uma ampla realidade.
Para acelerar a reintegração, há iniciativas como o projeto Recomeçar, da rede Gerando Falcões, que já conseguiu empregos para mais de 100 egressos -- homens e mulheres -- desde a sua criação. Ainda no setor privado, a empresa de mobilidade Grow declarou, no último ano, que faz um projeto em parceria com o Instituto Responsa para a reinserção de egressos no mercado de trabalho.
Há, ainda, a organização sem fins lucrativos Humanitas360, que também faz serviços de ressocialização de egressos. No setor público, um programa é o Pró-Egresso, do Governo do Estado de São Paulo, que permite a empresas e pessoas que estiveram na prisão se cadastrarem na plataforma, seguindo um conjunto de regras.
Em 2020, o Ministério da Justiça e Segurança Pública certificou 372 instituições por contratarem quase 17 mil presos e egressos do sistema penitenciário nacional.
Na PlantVerd, hoje, dos 160 funcionários da empresa, 30 já estiveram na prisão. De acordo com Antonio, a cada projeto -- que dura em média 36 meses -- é preciso demitir a maior parte das pessoas que foram contratadas (sejam egressos ou não), mas os melhores têm chances de serem efetivados pela empresa.
Foi o que aconteceu com Degmar de Souza, nome revelado pelo próprio Antonio. Ele passou de trabalhador rural, cargo de entrada na empresa, para líder de equipe. E, não só isso, mas tem uma das equipes de maior produtividade dentro da startup.
?A equipe dele é tão boa que, quando preciso de alguém de confiança em um projeto, mesmo que seja em outro estado, conto com eles porque sei que o trabalho será cumprido?, diz Antonio.
Planos para o futuro
Mesmo com atuação nacional, a PlantVerd tinha, até o início desse ano, sede apenas em São Paulo. Com novos projetos em Minas Gerais, especialmente na região de Mariana, a empresa expandiu as operações e hoje também atua no estado mineiro.
Por lá, ainda não foi possível encontrar egressos do sistema prisional, mas a empresa segue em busca deles para os novos projetos. A principal aposta da PlantVerd é a qualificação que a companhia oferece, no cargo de trabalhador rural.
?Temos uma área gigante a ser restaurada em Minas Gerais. Vamos contratar as pessoas necessárias para o projeto e qualificá-las para se tornarem restauradores florestais. Mesmo que depois a gente vá embora, há mercado de trabalho para isso no estado?, diz Antonio.
Voltando à capital paulista, a startup, que tem R$ 69 milhões em contratos plurianuais com prazo de cinco anos, acredita que uma alavanca importante para seu crescimento está no projeto Ativo Verde. O projeto possibilita o cadastro de propostas para gerar ativos -- ou créditos ambientais -- e a startup foi a primeira empresa a ter um projeto Ativo Verde aprovado.
Em janeiro deste ano, as primeiras ações do projeto foram colocadas em prática no estado de São Paulo. Segundo informações divulgadas pela Secretaria do Meio Ambiente, os projetos abrangem mais de 30 hectares e serão feitos em Piracaia, Joanópolis e em Nova Independência.
Além desse projeto, a empresa também acredita que a retomada econômica, principalmente para o setor de infraestrutura, deve contribuir para o crescimento da startup nos próximos anos.
De fato, há um efeito multiplicador importante no setor, que pode ser explorado nos próximos anos. Segundo a pesquisa Raio X da Infraestrutura Brasileira em 2021, produzida pela LCA Consultores, o setor projeta rendimento de R$ 40,4 bilhões ao PIB até 2023, além de gerar mais de 943 mil empregos.
Ainda assim, há desafios a serem superados. O Ministro da Infraestrutura, Tarcísio de Freitas, conseguiu aumentar em R$ 1 bilhão o orçamento da pasta, mas defende que o valor não deve ser suficiente para as demandas. "Obras paradas não geram taxa de retorno", disse o ministro da Infraestrutura.
Mesmo dentro do ambiente incerto do Brasil de 2021, a PlantVerd tem algumas certezas: continuar crescendo é uma missão para os próximos anos, bem como incluir o máximo possível de pessoas que queiram trabalhar -- independentemente de suas origens ou de onde estiveram.
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