Negociação deve impactar positivamente venda de produtos manufaturados e do agronegócio; país já é 8º maior destino das exportações brasileiras
Até o final do ano, o Mercosul, capitaneado pelo Brasil, deve concluir uma acordo de livre comércio com Singapura, país que possui o terceiro maior PIB per capita em paridade de poder de compra do mundo e constitui um dos maiores centros de exportações da Ásia, com o quinto maior porto global. O comércio do Brasil com Singapura vem aumentando significamente. Em 2020, o país ocupava o 12º lugar no ranking dos principais destinos das exportações brasileiras. Este ano, já passou para a 8ª posição, a frente de países como Alemanha e México.
"O acordo deverá representar um incremento das trocas comerciais com Singapura e uma importante porta de entrada para os produtos brasileiros entre os países asiáticos", disse Pedro Miguel da Costa e Silva, Secretário de Negociações Bilaterais e Regionais nas Américas do Minstério de Relações Exteriores, em entrevista exclusiva à EXAME.
As negociações acontecem há pelo menos dois anos e devem se encaminhar para a assinatura formal do acordo até o final do ano, segundo o Itamaraty.
Atualmente, o Brasil exporta principalmente produtos manufaturados para Singapura, como óleo combustível de petróleo ou de minerais, que correspondem por 60% das exportações. Em seguida, têm destaque os óleos brutos de petróleo ou de minerais (16% das vendas). Carnes de frango, suínos e bovinos também ocupam um papel importante nas exportações.
Juntos, esses dois produtos somaram quase 3 bilhões de dólares em vendas para o Brasil em 2020, fechando em superávit. Este ano, somente entre janeiro e junho as exportações brasileiras alcançaram 2,5 bilhões de dólares. Alimentos, como carne de frango, suína e bovina, fazem parte do ranking das categorias de produtos mais comercializadas para Singapura.
A balança comercial brasileira como um todo fechou o primeiro semestre deste ano com um saldo positivo de 37,5 bilhões de dólares, recorde da série histórica, iniciada em 1997. O resultado foi quase 70% superior ao do mesmo período do ano passado, devido à retomada da atividade econômica em muitos países e o dinamismo do agronegócio, principal motor das vendas externas brasileiras. Até o final do ano, o Brasil deve registrar um superávit recorde de 105,3 bilhões de dólares.
"O agronegócio e a indústria têm muito a ganhar com esse tipo de acordo comercial, que estabelece uma grativa diminuição das tarifas de importação, tornando os produtos mais competitivos", diz Silva.
Outros acordos estão na mesa de negociações. Diplomatas brasileiros e dos outros países que integram o Mercosul trabalham na conclusão de acertos com o Canadá, Coreia do Sul e Líbano. Desses, o mais próximo de um desfecho talvez seja o Canadá.
A pandemia, no entanto, atrapalhou as negociações de uma forma geral. De acordo com especialistas a par das negociações, a suspensão de viagens e reuniões presenciais tornou os processos mais morosos. Agora, a previsão é de uma nova fase de aceleração, com o progresso da vacinação nos países.
Do ponto de vista comercial, as negociações com o Canadá e a Coreia do Sul são consideradas mais importantes. "Com o Libano, há um importante fator cultural e humano, já que a imigração de libaneses foi marcante no Brasil e hoje muitos brasileiros moram no Líbano", avalia Silva. Ainda não há, no entanto, uma previsão sobre a conclusão das tratativas no curto prazo. A expectativa é que o acordo com o Canadá possa avançar no segundo semestre deste ano e em 2021.
Em 2020, o Canadá representou o 5º maior destino das exportações brasileiras, com mais de 4 bilhões de dólares de compras realizadas, em sua maior parte de ouro (44%) e metais, como óxido de alumínio, além de açúcar e café. Um acordo de livre comércio deverá permitir a entrada de mais produtos do agronegócio. "Como sempre, um dos pontos delicados da negociação é a questão do agronegócio, setor em que somos muito competitivos, mas as conversas estão caminhando", diz Silva.
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