Será preciso muita pesquisa para entender os reflexos do atual descolamento da economia da popularidade do presidente
Por Marcio de Freitas*
O limite a não ser ultrapassado pelas forças romanas não foi respeitado por Júlio César, que tomou o poder em Roma. Era o rio Rubicão.
Os rios brasileiros usualmente têm águas barrentas, turvas. Alguns são intransponíveis pelo tamanho. César jamais ultrapassaria o Amazonas. Nem se atreveria no Araguaia, de memorial simbologia. Mas aqui salta-se sobre o rio de saliva a qualquer hora do dia. E os políticos os produzem em grande escala nestas temporadas quentes da Comissão Parlamentar de Inquérito da Pandemia, que nem as massas polares esfriaram.
Vive-se uma espécie de sado política. As ferramentas são agressivas e conseguem fazer ferimentos graves em todos, mas principalmente no governo. É o que se depreende das últimas rodadas de pesquisas do Datafolha e do DataPoder360.
Há sinais claros de recuperação da economia. Os indicadores são em sua maioria positivos. Essa tendência normalmente é associada à melhora na avaliação positiva do presidente da República. Não foi o que aconteceu. Houve piora.
Ainda é cedo para dizer que houve um descolamento da economia da popularidade do presidente Jair Bolsonaro. Mas é importante observar os próximos meses. Se a tendência se confirmar no médio prazo, o risco eleitoral para o governo, em 2022, estará aumentado.
Outro ponto importante é saber se a população associa corrupção com o atual governo. Honestidade foi ativo importante de Bolsonaro em 2018. Perder esse trunfo dificulta muito sua pretensão de continuar no Palácio do Planalto.
Se houvesse um Rubicão brasileiro, de tantas idas e vindas, as águas já estariam bem turvas. Será preciso muita pesquisa para ver o fundo do rio até o próximo ano.
*Márcio de Freitas é analista político da FSB Comunicação
Este é um conteúdo da Bússola, parceria entre a FSB Comunicação e a Exame. O texto não reflete necessariamente a opinião da Exame.
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