Em cúpula de chefes de Estado, Bolsonaro afirmou que "Brasil tem pressa" para ver mudança nas regras do bloco
O presidente Jair Bolsonaro afirmou que o Brasil tem sede por resultados, pretende lançar novas negociações e concluir acordos comerciais pendentes, em discurso nesta quinta-feira em que o país assume até o final do ano a presidência pró-tempore do Mercosul.
Bolsonaro disse também que vai trabalhar pela redução de tarifas comerciais e "eliminar outros entraves ao fluxo comercial entre nós e com o mundo".
"Queremos e conseguiremos uma economia mais arejada e integrada ao o mundo, empresas mais competitivas, trabalhadores mais produtivos e consumidores mais satisfeitos", disse, ressaltando seu desejo de modernizar o bloco comercial.
Sem ter sido citado nominalmente pelo presidente, um dos acordos pendentes é o de livre comércio entre o Mercosul e a União Europeia. Ele tem sido alvo de ressalvas por governos europeus em razão de problemas do país na gestão ambiental principalmente por desmatamento e queimadas da Amazônia.
A fala de Bolsonaro ocorreu em encontro virtual da LVIII Cúpula de Chefes de Estado do Mercosul e Estados Associados. A Argentina, sob a presidência do desafeto do presidente brasileiro, Alberto Fernández, deixa o comando do bloco.
Apesar de uma série de embates públicos com o presidente argentino, Bolsonaro disse lamentar não ter encontrado presencialmente com Fernández, a quem agradeceu sua gestão à frente do bloco. Ele afirmou que, com o avanço rápido da vacinação, estará "honrado" em receber os chefes de Estado do bloco no final do ano.
Poder de veto
O presidente voltou a criticar o uso da regra do consenso entre os parceiros do Mercosul para a adoção de medidas por países, dizendo que ela funciona como um instrumento de veto que só consolida o "ceticismo" do bloco. Em encontro de dirigentes do grupo em março, ele já tinha feito queixa semelhante ao mecanismo.
"A persistência de impasses, o uso da regra do consenso como instrumento do veto e o apego a visões arcaicas de viés defensivo terão o único efeito de consolidar sentimento de ceticismo e dúvida quanto ao verdadeiro potencial dinamizador do Mercosul", disse.
No mês passado, o ministro da Economia, Paulo Guedes, havia criticado a Argentina por se opor a acordos comerciais do Brasil com outros países e alertou que poderia haver um problema "seriíssimo" se o governo vizinho não revisse suas posturas em relação ao Mercosul.
"Nós não vamos sair do Mercosul, não, mas nós não vamos estar num Mercosul movidos a ideologias", disse Guedes.
"Nós é que não podemos deixar... que um veto... de um governo... é... argentino possa impossibilitar um acordo comercial nosso com o exterior", disse Guedes na ocasião, depois de falar sobre travas no acordo comercial com a União Europeia.
Recuperação
Bolsonaro disse estar convencido de que o Mercosul pode e deve ter papel crucial para a recuperação econômica dos países que compõem o bloco. Disse que quer superar a "imagem negativa" da aliança e modernizar a agenda comercial do grupo durante a presidência pró-tempore que cabe ao país até o final do ano.
"Não podemos deixar que o Mercosul continue a ser visto como sinônimo de ineficiência, desperdício de oportunidades e restrições comerciais", declarou.
O presidente fez crítica ao andamento do bloco, dizendo que o semestre que se encerrou não correspondeu às expectativas e necessidades de modernização.
"Devíamos ter apresentado resultados concretos nos dois temas que mais mobilizam nossos esforços recentes: a revisão da tarifa externa comum e a adoção de flexibilidades para as negociação de acordos comerciais com parceiros externos", enumerou.
O presidente afirmou que o país não vai paralisar os esforços para modernizar a economia e sociedade brasileiras e quer que os sócios do bloco se tornem parceiros na mesma tarefa. Ele destacou que essa é a melhor maneira de honrar os 30 anos do bloco que se celebra neste ano.
"Em nossa Presidência de turno continuaremos a trabalhar pelos valores originais do bloco associados à abertura e a busca da maior e melhor integração de nossas economias nas cadeias regionais e internacionais de valor", disse.