Ao assumir a nova identidade, que inclui uma nova nacionalidade e um novo nome, influencer provocou uma onda de críticas por, supostamente, se apropriar do discurso trans para fins questionáveis
Um influencer britânico se tornou assunto na internet nesta terça-feira (29) ao se identificar como coreano. Nos últimos oito anos, Oli London se submeteu a 18 cirurgias plásticas com o objetivo de ficar parecido com Park Ji-Min, um dos integrantes do BTS, o grupo de k-pop mais famoso do mundo. Oli inclusive anunciou que, além do visual e da nacionalidade, também mudou seu nome: ele agora se chama Jimin.
"Finalmente transicionei. Sou um coreano!", disse o influencer em um dos vídeos publicados no Twitter, falando também em coreano. A publicação alcançou mais de 3.5 milhões de views em menos de quatro dias. "Estou muito feliz de ter completado esse processo. Agora, eu tenho os olhos, e também levantei as sobrancelhas. Eu sei que soa um pouco confuso porque ninguém nunca fez isso antes, mas vocês sabem... Eu realmente tinha problemas de identidade com quem eu era."
Anteriormente, Jimin explicou aos seus seguidores que se sentia preso no corpo em que nasceu, comparando suas vivências a de pessoas transexuais - que não se identificam com o sexo biológico com o qual nasceram. "Ser transexual é o mesmo que ser transracial porque ambos nasceram no corpo errado. Existem milhões de pessoas transraciais sub-representadas no mundo e eu quero ajudá-las a se sentir bem consigo mesmas ", explicou Jimin, que gastou cerca de US$ 150 mil dólares (quase R$750 mil reais) nos procedimentos, que aconteceram ao longo de um ano.
Nas redes sociais, Jiimin recebeu muito apoio, mas também foi duramente criticado por, supostamente, se apropriar da legitimidade da causa trans para fins questionáveis uma vez que, diferente da identidade de gênero, a raça de cada indivíduo está diretamente relacionada à hereditariedade. O influencer chegou até a receber ameaças de morte após assumir a identidade e a nacionalidade coreana.
Um debate filosófico
As críticas à Jimin resgataram o caso de Rachel Dolezal, uma ativista americana branca que, em 2015, veio a público se identificar como negra - ainda que seus pais fossem caucasianos. Na época, a polêmica em torno da história de Dolezal se tornou notícia em todo os EUA.
Mais recentemente, em 2017, a americana e professora de filosofia Rebecca Tuvel também causou controvérsia ao publicar em uma revista filosófica feminina um artigo chamado "Em Defesa da Transracialidade", em que defende o mesmo que Jimin: que a argumentação que defende a identidade transgênero também deve servir para amparar identidades transraciais.
"A sociedade deve aceitar a decisão de um indivíduo que muda de raça da mesma maneira que deve aceitar a decisão de um indivíduo que muda de sexo", disse Tuvel em seu artigo, gerando um grande debate acerca do tema.
Enquanto os críticos da professora argumentavam que seu artigo ignorava a perspectiva de pesquisadores transgêneros e não-brancos, seus defensores diziam que ela estava sendo vítima de perseguição por suas ideias. Outros pesquisadores questionaram, ainda, se a ideia de "lugar de fala", que pressupõe que apenas quem vive as situações pode comentar sobre elas, não enfraquece a livre troca de ideias.